Fique bem claro, caros filhos, que, na
raiz dos males atuais e de suas funestas consequências, não está, como antes da
vinda de Cristo ou nas regiões pagãs, a ignorância invencível dos destinos
eternos do homem e das vias fundamentais para atingi-los, mas antes a letargia
de espírito, a anemia de vontade, a frieza dos corações. Os homens atingidos
por esse contágio tendem, para se justificar, a rodear-se das antigas trevas e
procuram um pretexto em novos e antigos erros. É pois sobre suas vontades que é
preciso agir (Pio XII, em Exortação aos fiéis de Roma, de 10-11-1952).
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
351ª Nota - O verdadeiro sentido da peregrinação
Catolicismo
n° 22, outubro de 1952
RECEBENDO
em Castelgandolfo um grupo de “Companheiros da São Francisco”, que partiam a pé
para Assis em comemoração do 25º aniversário de sua associação, o Santo Padre Pio XII dirigiu-lhes palavras em que recorda o verdadeiro sentido e a utilidade
espiritual da peregrinação. Disse Sua Santidade:
“Restituir
ao século do automóvel, da estrada de ferro, do avião, a noção do alto significado
espiritual da peregrinação, da estrada tenazmente palmilhada rumo às alturas
consagradas pelo heroísmo dos Santos, eis certamente uma empresa digna dos
grandes séculos de fé.
Nossos
contemporâneos perderam muitas vezes, juntamente com a noção do sobrenatural, o
senso das belas obras da criação, sobretudo dos lugares e coisas santificados
pelas almas de escol, por aqueles que Deus marca com o Seu sinal e encarrega de
transmitir a seus irmãos os dons do céu. A exemplo de Francisco de Assis, procurais
reencontrar esta primeira manifestação da bondade e da grandeza de Deus pela
contemplação de Sua obra. Ides reaprender fielmente esta grande lição nos
lugares animados outrora por sua presença, diante das paisagens que o
auxiliaram a elevar-se para o Senhor.
Vós
ides sobretudo como peregrinos, ansiosos por ali renovar vossas profundas
energias e por rejuvenescer vossas almas nesta fonte sempre fresca que São
Francisco fez jorrar sobre a terra da Úmbria.
Uma
tal meta não se pode atingir sem uma intensa preparação espiritual. De vossa
parte, haveis escolhido a da peregrinação, tão tradicional e ao mesmo tempo tão
eficaz. A peregrinação é uma longa caminhada, que começa por uma separação.
Deixa-se sua própria região, a vida de todos os dias, esquece-se todas as lembranças
banais ou mesquinhas, que entravam e freiam os melhores impulsos. E toma-se
corajosamente a estrada. Renuncia-se às fáceis certezas da refeição, do
alojamento; domina-se a fadiga. A oração abre então mais facilmente seu caminho
para Deus. Quando o descanso reúne os companheiros, um fervor íntimo enriquece
as almas, e difunde-se dentro em pouco ao uníssono de uma prece, de um canto,
de uma troca de pensamentos e de sentimentos. Ela se exalta sobretudo, em uma
tensão toda recolhida, ao redor do altar, quando o Corpo de Cristo oferecido em
sacrifício vem alimentar o cristão em marcha para o Senhor.
A
peregrinação reeduca em vós o espírito de penitência, o sentido da Providência
e da confiança em Deus. Ela vos relembra mesmo, pode-se dizê-lo, o sentido da
vida: um desapego do presente, das alegrias e tristezas de que se tecem vossos
dias, para avançar rumo a um termo cujo atrativo vos fascina. Mas impossível de
lá chegar sem uma renúncia à facilidade, às comodidades, e sobretudo sem
guardar viva no fundo do coração a esperança que sustem vosso esforço. Os
jovens cristãos compreenderam hoje em dia que escola de formação espiritual
encontrariam neste caminhar. Não um caminhar profano, onde só se, procura a
união com a natureza, mas um caminhar santificado pela oração e pela caridade”.
Nota:
Nas peregrinações medievais notava-se não somente pessoas sãs que transpunham
frequentemente a pé grandes distâncias, mas também doentes que se expunham
corajosamente às intempéries e às fadigas, transportados em veículos
primitivos.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
350ª Nota - O Nazismo: um movimento de esquerda ou de direita?
Sob
o título de "Socialismo no Nacional Socialismo" ou "A falsa
interpretação marxista do movimento nazista", publicou o tradicional
semanário católico inglês "The Tablet", em seu número de 30 de agosto
do corrente ano, um esclarecedor estudo em torno da mistificação que vem sendo
feita no que tange ao papel revolucionário do nazismo.
Ressurge
a questão com o problema do rearmamento da Alemanha Ocidental. Não é somente a
ala bevanista do socialismo inglês que se mostra contrária a esse rearmamento,
fazendo assim o jogo soviético. Também o sr. Attlee, em recente debate na
Câmara dos Comuns, inflamado de zelo democrático e de amor por seus irmãos os
socialistas teutos, manifestou os seus receios de que através do rearmamento
alemão os infames capitalistas promovam o renascimento do nazismo, apontando
mesmo o perigo de que, ao se organizar um exército de voluntários na República
de Bonn, "o elemento nazista seja o primeiro a se alistar".
A
UNIFORMIDADE COLETIVISTA
Ora,
a argumentação do líder trabalhista britânico encobre uma grande ignorância ou
uma enorme hipocrisia a respeito do fundo ideológico da luta política e social
de nossos dias. E como mesmo no Brasil está reaparecendo a aliança do nacionalismo
com o socialismo, torna-se muito oportuno resumir para os nossos leitores o
mencionado artigo do "Tablet".
A
conexão desses erros teve inicio com o seu próprio aparecimento há cento e
cinqüenta anos atrás, recebeu sua forma final em meados do século passado,
quando o socialismo começou a espalhar-se sob o aspecto
"internacional". Foi a Revolução Francesa que deu ímpeto ao
esquerdismo na Europa, e a essência real do esquerdismo deve ser procurada não
tanto em uma filosofia materialista, mas na tendência "identitária"
que deseja transformar a humanidade (ou uma parte específica da humanidade)
segundo linhas uniformistas e coletivistas. A concretização de tal programa
visionário, que se baseia em um molde específico, somente é possível através da
captura do governo por um partido ("o" partido) que então se entrega
à faina brutal de refazer a sociedade pela coerção.
AS
ORIGENS ESQUERDISTAS DO NAZISMO
Nestas
considerações temos que achar a chave dos erros cometidos tão freqüentemente
pelos elementos "progressistas" que mostram pendores para o
socialismo.
O
nacional-socialismo, como frisou um de seus aderentes da primeira hora, é
"a síntese de duas grandes forças deste país — nacionalismo e
socialismo" (Prof. J. Pfitzner, executado em 1945). Os aspectos sinônimos
das expressões "nacionalização" e "socialização" por si sós
nos deveriam dar uma pista para descobrir a verdade nessa questão. Na própria
gênesis do Partido Nazista as forças da esquerda (muito mais que as da direita)
foram responsáveis pelo seu nascimento. De início tomando corpo como Partido
dos Trabalhadores Germânicos (DAP), organizado na Boemia e Morávia para
competir com o Partido Nacional Socialista Checo (estabelecido por socialistas
vermelhos depois de um cisma), finalmente aceitou o rótulo "Nacional
Socialista" em maio de 1918, isto é, antes do Armistício. Transplantado
para a Alemanha, mas fracassando na católica Baviera em 1923, conquistou o
Reich através de uma série de vitorias eleitorais no Norte e no Nordeste.
Copiando a técnica do Partido Social Democrático (socialista), mobilizou os
não-votantes habituais bem como os elementos dos partidos democráticos.
Mantendo sua estrutura de infra-classe média, penetrou extensamente nas classes
trabalhadoras.
A
FÁBULA CAPITALISTA
Gustav
Stolper, um refugiado austríaco falecido na América do Norte, foi talvez o
primeiro a assinalar, em um livro muito oportuno ("Esta Era de
Fábulas", Nova York, 1942), que a apresentação do nazismo como a
derradeira linha de defesa do capitalismo moribundo, foi um esforço desesperado
para explicar o fenômeno nazista em termos marxistas. Stolper recordava a seus
leitores que a vasta maioria dos intelectuais refugiados da Alemanha hitlerista
pertenciam ao campo marxista (socialista e comunista), e que esses homens não tinham
outra explicação "ortodoxa" da ascensão de uma ideologia que os
tornou sem pátria, senão no velho chavão de todos os marxistas fanáticos, ou
seja, o capitalismo. Com efeito, o nazismo, a seus olhos, não podia passar de
produto traiçoeiro dos infames capitalistas, que deviam ter
"financiado" essa monstruosidade.
É
bem verdade que certos homens de negócio alemães de fato contribuíram com algum
dinheiro para o Partido Nazista, do mesmo modo que os taverneiros americanos
nos dias da Proibição estipendiaram os gângsteres e contrabandistas de bebidas
de modo a deles receber "proteção". E o fato de dinheiro judaico
haver sido canalizado para os mesmos fins poderia servir para sublinhar o drama
de minorias em um sistema democrático em que grandes contingentes de eleitores
habilmente manobrados poderiam "retirá-las do negocio". Aliás é um
assunto que merece estudo à parte, este da ajuda prestada por capitalistas
hebraicos à causa do nazismo. Não obstante, Stolper muito claramente demonstra
que a ajuda financeira desses homens de negócio foi sensivelmente menor que a
fornecida pelas massas que tomaram cartões de inscrição no Partido e
regularmente pagaram suas contribuições.
NAZISMO
E "ASCENSÃO DAS MASSAS"
O
nazismo nunca foi uma conspiração de junkers de sangue azul, de nédios
sacerdotes e de generais de galões dourados contra o "homem comum",
mas, muito pelo contrário, foi uma revolução insuflada nas massas alemãs contra
suas elites que, além do Primeiro e do Segundo Estados, também incluíam uma
coorte de intelectuais e artistas, odiados por motivo de seus aspectos
esotéricos e "antidemocráticos", e, finalmente, o que se convencionou
chamar de "plutocracia". Os nazistas constituíam o partido da
"vasta maioria" ( votações maciças de noventa por cento) aliciada
contra as minúsculas, pouco populares minorias; o partido das "luzes"
do século XIX e do kulturkampf contra os valores permanentes da tradicional
civilização cristã que sempre foi pela liberdade, pela diversidade, pela
personalidade e pela perenidade, contra a escravidão, contra o coletivismo,
contra a uniformidade.
Permanecem
de pé corno fatos incontestáveis o contubérnio do nazismo com um materialismo
biológico e com uma noção barata de ciência, e sua tendência sedentariamente
urbana e anti-agrária. É verdade que o nazismo atacou a propriedade
preferentemente de modo diverso do usual padrão socialista — não pelo confisco,
mas pela fusão do próprio conceito de propriedade na fornalha incandescente de
um autêntico Estado totalitário, tornando-se os proprietários meros mordomos ou
administradores de suas "propriedades". Mas, do mesmo modo que o
esquerdismo liberal da Revolução Francesa, começou os confiscos diretos pela
usurpação dos bens da Igreja.
NAZISMO,
PRECURSOR DA BOLCHEVIZAÇÃO DAS MASSAS
A
estas considerações do Tablet podemos acrescentar que a 19 de outubro de 1936 o
jornal católico holandês "Maasbode" denunciava o nazismo como o
"precursor da bolchevização das massas", transcrevendo uma
carta-aberta de Goebbels (publicada no órgão oficial do Partido Nazista,
"Voelkische Beobachter") endereçada ao chefe comunista em Moscou, do
teor seguinte: "Nós nos combatemos reciprocamente, sem sermos
verdadeiramente inimigos. Assim fazendo, malbaratamos nossas forças e jamais
alcançaremos nossos fins. Pode ser que a extrema necessidade nos aproxime. Pode
ser! Nós, jovens, carregamos conosco a sorte das gerações futuras. Não o
esqueçamos jamais. Eu vos saúdo!"
E
acrescentava o "Maasbode" que o nazismo não combatia o bolchevismo
como tal, mas o comunismo enquanto sistema concorrente na política interna, e a
Rússia soviética como um adversário no tabuleiro do xadrez internacional.
Todo
o "folclore" dos nazistas pertencia à extrema-esquerda — sua bandeira
vermelha não menos que seu anticlericalismo, seu ódio à tradição não menos que
o emocionalismo que os liga diretamente às seitas ferozmente esquerdistas,
milenaristas e radicais do passado.
IRRESISTÍVEL PENDOR PARA A ESQUERDA
Por
todas estas razões prossegue o Tablet não é mera coincidência que zelotes da
primeira hora do nazismo tenham sido largamente absorvidos pelos partidos da
esquerda após 1945. É altamente significativo que muitos nazistas austríacos
tenham achado refúgio congenial no "Partido Independente" (VdU) cujos
membros na última eleição presidencial tornaram possível a vitória de um
candidato socialista (metade dos Independentes se abstiveram e um terço deu
seus votos ao socialismo). Na Alemanha foi o líder socialista Dr. Schumacher,
mais que qualquer outro, que se tornou porta-estandarte do nacionalismo alemão
(e do socialismo) com suas crescentes animosidades esquerdistas contra muitas
formas da ordem cristã, e especialmente da tradição católica. Aliado ao pastor
Niemoeller (que, por seu lado, lança lânguidos olhares para leste), se mostrava
amargamente hostil à aliança com o Ocidente e se opunha às mais práticas
soluções para o problema do rearmamento alemão. Desse modo uma aliança entre os
Sociais Democratas (socialistas) e os novos partidos nacionalistas da extrema
direita (leia-se: extrema esquerda) não é nada impossível. Os
internacionalistas e os nacionalistas uniriam suas forças contra aqueles que
pensam em termos do Ocidente cristão. E quem teria a ganhar com isto senão
Moscou?
O
sr. Attlee não deve dirigir sua lança contra moinhos de vento, mas contra os verdadeiros
continuadores e cultivadores da nefasta obra nazista: os correligionários do
trabalhismo britânico na Alemanha ocidental, os socialistas.
(Excerto
extraído da Revista Catolicismo)
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
349ª Nota - Conto de Fadas faz bem às crianças?
“O
conto de fadas é acusado de dar às crianças uma falsa impressão do mundo em que
vivem. Na minha opinião, porém, nenhum outro tipo de literatura que as crianças
poderiam ler lhes daria uma impressão tão verdadeira. As histórias infantis que
se pretendem ‘realistas’ tendem muito mais a enganar as crianças.” (C. S.
Lewis, in Três maneiras de escrever para crianças)
Segundo
Tolkien, os contos de fadas podem oferecer ao espírito humano, além de seu
valor literário em si, quatro outras experiências: Fantasia, Recuperação, Escape e
Consolo.
A
Fantasia é uma forma de arte derivada da Imaginação, que visa a produzir
imagens que não estão presentes no que Tolkien chama de Mundo Primário (a
realidade de fato) e a liberdade de dominação dos “fatos” observados, ou seja,
do fantástico. Afirma também que a Fantasia é o poder de produzir Encantamento,
e que não afronta a razão.
“A
Fantasia é uma atividade humana natural. Certamente ela não destrói, muito
menos insulta, a Razão; e não abranda o apetite pela verdade científica nem
obscurece a percepção dela. Ao contrário. Quanto mais aguçada e clara for a
razão, melhor fantasia produzirá.”
A
Recuperação é um modo de readquirirmos o deslumbramento, a admiração pelas
coisas que se tornaram corriqueiras em nossos dias, coisas com as quais não nos
importamos mais, mas que carregam em si mesmas o mistério da vida. (...)
Perceber por meio da Fantasia, o quão maravilhoso é o mundo enquanto criação de
Deus, que as coisas simples da natureza, com as quais lidamos no dia a dia –
uma flor, um gramado verde vivo após a chuva (ou a chuva mesma) –, são de uma
beleza inconteste, que nos levam àquilo que Chesterton disse tão
bem-humoradamente: “Eu sempre acreditava que o mundo envolvia uma mágica: agora
achava que talvez ele envolvesse um mágico”.
O
Escape envolve uma ligeira sutileza. Escape não é a mesma coisa que escapismo.
Com essa distinção Tolkien quer dizer que não se pode confundir “o escape do
prisioneiro com a fuga do desertor”. Sua concepção de escape trata do desejo de
ultrapassar o ordinário, e muitas vezes aterrador, cotidiano.
Por
fim, o Consolo, mais precisamente o Consolo do Final Feliz. Tolkien diz que
assim como a Tragédia é verdadeira forma do Drama, o Consolo do Final Feliz é a
verdadeira forma das histórias de fadas. Para facilitar a compreensão do
conceito, Tolkien criou um termo: Eucatástrofe (boa catástrofe), que é a
mudança repentina de uma situação de revés ao final de uma história; a alegria
do final feliz, que, diferente de ser “escapista” ou “fugitiva”, demonstra uma
graça repentina, um milagre. E arremata dizendo que a própria História Cristã é
a maior eucatástrofe concebível; que o nascimento de Cristo é a eucatástrofe da
história do Homem, e a ressurreição é a eucatástrofe da história da Encarnação.
(Ficção
científica contra o cientificismo: teologia e imaginação moral na trilogia
cósmica de C. S. Lewis, 2016, de Paulo Cruz)
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
348ª Nota - Santo Tomás de Aquino confirma a posição sedevacantista
Santo Tomás de Aquino
(1225-1274) é o maior de todos os doutores da Igreja. É chamado “Doutor Comum”,
“Doutor Angélico” ou “Anjo da Escola”, em razão da excelência de sua doutrina.
Foi exaltado frequentemente pelos Papas.
“Tomás, sozinho, iluminou mais a Igreja do que todos os
outros doutores. Sua doutrina somente poderia ter vindo por uma ação milagrosa
de Deus” (João XXII na bula de canonização).
Que nos ensina esse doutor quase tão infalível quanto o Papa?
O Doutor Angélico é partidário da infalibilidade absoluta e permanente
do Soberano Pontífice:
“A Igreja apostólica (de São Pedro), situada acima de todos
os bispos, de todos os pastores, de todos os chefes da Igreja e dos
fieis, permanece pura de todas as seduções e de todos os artifícios
dos hereges em seus pontífices, em sua fé sempre inteira e na autoridade
de Pedro. Enquanto as outras igrejas são desonradas pelos erros de certos
hereges, somente Ela reina, apoiada sobre fundamentos inabaláveis, impondo
silêncio e fechando a boca de todos os hereges; e nós (...), confessamos e
pregamos em união com Ela a regra da verdade e da santa tradição apostólicas.”
(Citação de São Cirilo de Alexandria por Santo Tomás de Aquino em sua “Catena
Áurea”, em seu comentário sobre o Evangelho de São Mateus, XVI, 18.)
Apoiando-se sobre São Lucas, XXII, 32, o Doutor Comum ensina que a
Igreja não pode errar, porque o Papa não pode errar, e, portanto, não
pode promover o erro nem a heresia.
“A Igreja universal não pode errar, pois Aquele que é ouvido em
tudo por força de sua dignidade disse a Pedro, sobre a profissão de fé em que a
Igreja é fundada: ‘Eu roguei por ti para que tu fé não vacile jamais’” (Suma
Teológica, II-II, q. 1, a. 10).
“Uma vez que as coisas foram decididas pela autoridade da
Igreja universal, quem se recusar obstinadamente a submeter-se a esta decisão, seria
herege. Esta autoridade da Igreja reside principalmente no soberano
Pontífice. Pois foi dito (Decreto XXIV, q. I. c. 1.2): ‘Todas às vezes que uma
questão de fé é agitada, penso que todos nossos irmãos e todos nossos colegas
no episcopado somente devem se remeter a Pedro, a saber, pela autoridade de seu
nome e de sua glória’”.
Nem os Agostinhos, nem os Jerônimos, nem nenhum outro doutor
defendeu sentimento contrário a sua autoridade. É por isso que São Jerônimo
dizia ao Papa São Dâmaso (in expo. Symbol.): “Tal é a fé, Santíssimo Padre,
que aprendemos na Igreja Católica: se em nossa exposição se encontrar alguma
coisa pouco exata ou pouco segura, nós te rogamos que a corrija, tu que possuis
a fé e a Sede de Pedro. Porém, se nossa confissão recebe a aprovação de vosso
julgamento apostólico, quem quiser me acusar provará que é ignorante ou mal
intencionado, ou que não é católico, e não provará que sou herege”
(Suma Teológica, II-II. q. 11. a. 2).
“É necessário ater-se à sentença do Papa, a quem pertence o
pronunciar-se sobre matéria de fé, muito mais que a opinião de todos os sábios”
(Quaestiones quodlibetales q. 9 a 16).
No Salmo XXXIX, 10, está escrito: “Eu anuncie a Tua justiça
na grande assembleia”. Eis o comentário de Santo Tomás: “O salmista falou ‘em
grande assembleia’, isto é, na Igreja Católica, que é grande por seu poder e
firmeza: ‘As portas do Inferno não prevalecerão contra ela’” (S. Mateus, XVI,
18)
Esta firmeza, a Igreja a deve em primeiro lugar
à fé sem
falha do Pontífice Romano como é explicado em um dos opúsculos do santo
doutor: “A Igreja é Una, Santa, Católica e Firme. (...) Quarto: Ela é firme.
Uma casa é firme: 1) quando suas fundações são sólidas. A verdadeira fundação
da Igreja é Cristo (1 Coríntios, III, 2) e os doze apóstolos (Apocalipse, XXI,
14). Para sugerir a firmeza, Pedro é chamado de rocha. 2) A firmeza de uma casa
se manifesta também quando não pode ser derrubada por uma sacudida. A Igreja
não pode ser derrubada nem pelos perseguidores, nem pelas seduções do mundo,
nem pelos hereges. Segundo São Mateus, XVI, 18, as ‘portas do inferno’ (=
hereges) podem triunfar sobre tal ou qual igreja local, porém não contra a
Igreja de Roma donde reside o Papa. É por esta razão que somente a Igreja de
Pedro permanecerá sempre firme na fé. E enquanto que em outra parte a fé não
está completa, ou melhor, mesclada com muitos erros, a Igreja de Pedro, ela, é
forte na fé e pura de todo erro, o que não é surpreendente, visto que o Senhor
disse a Pedro: ‘Eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça’” (Santo
Tomás: Opuscula, opúsculo
intitulado Expositio symboli
apostolorum, passagem relativa ao artigo “Eu creio... na Igreja
Católica” do Símbolo dos Apóstolos).
O ensinamento do Doutor Angélico, por conseguinte, pode se
resumir assim: A fé do Papa é de uma firmeza absoluta e permanente. A doutrina
do Doutor Angélico deve ser “tida religiosamente” (santa) por todos os
professores de seminários (cânon: 1.366, § 2). A Igreja dá a entender por isto
o quanto Ela julga necessário que os jovens seminaristas (que mais tarde
formarão o baixo e alto cleros) sigam em tudo o Doutor Comum.
São Pio X dizia: “Afastar-se de Santo Tomás é se colocar em grave perigo” (Motu Proprio Sacrorum Antistitum, 1º de setembro
de 1910).
Ademais: “Aqueles que se afastam de Santo Tomás são por causa
disto levados a tal ponto que se arrancam da Igreja” (Carta Delata
Nobis, 17 de novembro de 1907, dirigida ao padre Thomas Pègues).
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
347ª Nota - Santo Tomás de Aquino e o Sedevacantismo
“A
Igreja apostólica (de São Pedro), situada acima de todos os bispos, de todos os
pastores, de todos os chefes da Igreja e dos fieis, permanece pura de
todas as seduções e de todos os artifícios dos hereges em seus pontífices, em sua fé
sempre inteira e na autoridade de Pedro. Enquanto as outras igrejas são
desonradas pelos erros de certos hereges, somente Ela reina, apoiada sobre fundamentos inabaláveis,
impondo silêncio e fechando a boca de todos os hereges; e nós (...), confessamos e pregamos em união com Ela a
regra da verdade e da santa tradição apostólicas.”
(Citação
de São Cirilo de Alexandria por Santo Tomás de Aquino em sua “Catena Áurea”, em
seu comentário sobre o Evangelho de São Mateus, XVI, 18.)
NB:
diante disso, como podem ainda muitos admitir e aceitar inconteste que Francisco
Bergoglio seja Papa e sua falsa Igreja, a Igreja Católica, Apostólica, Santa e “firme”
(como a qualificava o doutor Angélico).
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
346ª Nota - Que é a Beleza?
A Beleza consiste,
portanto, na aquisição da Sabedoria que, por sua vez, é
a instalação da ordem na vida, a paz interna, a felicidade do mundo
espiritual autônomo e independente do agir no mundo.
Essa
ênfase estoica na filosofia moral não era novidade no Ocidente. Fazia parte da
tradição socrático-platônica considerar os temas filosóficos sob o prisma
metafísico do Bem, da Verdade e do Belo. Essa tendência foi
acentuada pelo Neoplatonismo (sécs. III-VI). Plotino (c. 205-270),
filósofo grego, talvez o mais proeminente pensador entre os neoplatônicos,
dedicou um capítulo de suas Enéadas (Ἐννεάδες) ao Belo. Ele dirige-se
à visão, embora haja, de fato, uma beleza para a audição (pois a melodia e o
ritmo são belos). Beleza é a simetria das partes e suas cores. Mas as
mentes que se elevam para além dos sentidos encontram uma beleza superior,
a beleza da conduta de uma vida correta – em atos, em caráteres, em
virtudes. E tudo o que é relacionado à alma é belo.
Ademais,
a justiça e a temperança são mais belas que a aurora e o
crepúsculo, mas só podem ser apreciadas por aqueles que veem com os olhos da
alma. Esses conseguem experimentar um deleite, uma alegria, um assombro:
estão a contemplar o verdadeiro reino da Beleza. Lá encontra-se
a alma honesta, a que é justa, nobre, digna, calma, pura de costumes (isto
é, recatada, modesta), serena, impassível. Essa alma, purificada, torna-se
uma forma e uma razão. Essa beleza da alma é a existência
real, a verdadeira realidade. O resto, corpóreo, não é real, mas um mundo de
sombras, traços, imagens irreais.
O
mundo material das belezas corporais parece relegado mais decisivamente a ser
imagem, traço, sombra, espectro da verdadeira beleza. Por isso, o homem
deve habituar sua alma à contemplação das belas ocupações, das belas obras, e
especialmente das almas daqueles que realizam essas belas obras. A beleza
atrelada ao bem (ordem moral) é também um imperativo. Por isso, o símbolo maior
da feiúra é a alma dissoluta e injusta, cheia de concupiscências e desequilíbrios
– alma covarde, mesquinha, invejosa, infectada pelo deleite dos prazeres
impuros das paixões corporais (Enéadas, I, 5).
Com
Plotino já está esboçada a tríade que marcará profundamente todo o pensamento
medieval: Unum, Verum, Bonum. A beleza decorre da consideração
desses transcendentais. Tais esferas de valor estavam integradas,
completavam-se e não podiam separar-se. Por fim, para contemplar retamente a
beleza – das criaturas e da natureza – haveria uma única exigência por parte da
mente contemplativa (muito mais tarde definida belamente por Dante Alighieri
[1265-1321]): um olhar claro e uma mente pura (“con occhio chiaro e con affetto
puro”, Paraíso, Canto VI, 87).
(Extraído
do sítio Ricardo Costa – Idade Média)
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