terça-feira, 31 de outubro de 2017

337ª Nota - O amigo e o Amado


O amigo perguntou ao entendimento e à vontade qual dos dois estava mais perto do Amado; os dois correram, mas o entendimento chegou ao Amado antes do que a vontade.

Excerto do “Livro do amigo e do Amado” do Bem-aventurado Raimundo Lúlio (séc. XIII)

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

336ª Nota - É impiedade tolerar com paciência as injúrias a Deus


Nem vai contra a natureza da paciência atacarmos, quando necessário, quem faz o mal; porque, como diz São João Crisóstomo (Hom. Op. Imperf.) àquilo da Escritura — Vai-te, Satanás (S. Mat., 4, 10) — sofrermos com paciência as injúrias, que nos assacam, é digno de louvor; mas, é excesso de impiedade tolerar pacientemente as injúrias feitas contra Deus. E Santo Agostinho acrescenta numa epístola contra Marcelino (138, c. 2) que os preceitos da paciência não contrariam ao bem público, para cuja conservação lutamos contra os inimigos.

Santo Tomás de Aquino, em Suma Teológica (2a. 2ae., q. 136, a. 4, ad 3)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

335ª Nota - Cardeal Journet sobre o neomodernismo


NEOMODERNISMO. Iguais considerações levaram o teólogo suíço, Cardeal da Santa Igreja, Charles Journet a escrever em 1965 que “a crise atual é certamente mais grave do que a do ‘modernismo’”. Não estaria fora da verdade quem afirmasse que a crise atual, essencialmente, não difere da crise modernista, pois é o mesmo relativismo modernista que se tornou mais atuante, que penetrou mais profundamente nos espíritos de hoje. “Um dia, acrescenta o mesmo Emmo. Cardeal, os fiéis despertarão e tomarão consciência de que foram intoxicados pelo Espírito do Mundo” (apud “Sanctifier”, outubro de 1965, p. 6).

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

334ª Nota - O Mecanismo Revolucionário e o Culto do Número


Governo do povo é uma expressão que tem significados totalmente diversos na linguagem da Igreja e na dos revolucionários.
A concepção católica de governo do povo conduz a uma estrutura de Estado informada e vivificada por uma sociedade orgânica e hierárquica.
A concepção revolucionária conduz a um Estado mecânico e onipotente, dominando e movendo a massa inumerável dos cidadãos anônimos e iguais.

(...) a Igreja - segundo os ensinamentos de Leão XIII - não é incompatível com qualquer das formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a democracia. Entretanto, o conceito de democracia, nascido da Revolução Francesa, e fundado sobre os quatro grandes dogmas da soberania popular, da infalibilidade popular, da fidelidade absoluta ao sufrágio universal como expressão da vontade popular, e da organização da república democrática representativa universal, são incompatíveis com o pensamento da Igreja.

Um grande equívoco

Quando democratas à maneira de 1789 e católicos falam sobre “governo do povo”, há habitualmente entre eles dois graves equívocos, um sobre a palavra “governo”, e outro sobre a palavra “povo”. É devido a estes equívocos que a colaboração entre uns e outros tem visos de possibilidade. Quanto à palavra “governo”: para os católicos, todo o poder vem de Deus, paira acima dos súditos, e consiste em dirigir o povo; pelo contrário para os homens de 1789 o poder vem do povo, os súditos ditam sua vontade aos governantes, e governar não é dirigir a nação, mas fazer a vontade da massa.

Quanto à palavra “povo”, para a Igreja é a sociedade humana em que cada homem é dotado de convicções e princípios pessoais estáveis, lógicos, capazes de determinar duravelmente todo um estilo de vida e de ação; uma sociedade em que os grupos sociais, definidos e constituídos, são ricos de vida: uma sociedade em que as classes sociais são admitidas, reconhecidas, e hierarquizadas; uma sociedade enfim em que há elites de hereditariedade, de cultura, de capacidade, amadas, admiradas, reconhecidas, e classes populares vivendo na modesta mas profunda dignidade de sua condição a vida laboriosa, tranquila, farta, que compete a filhos de Deus. Pelo contrário, para os homens de 1789, o povo não é senão a “massa”, isto é, uma multidão anorgânica de pessoas todas iguais, todas anônimas, todas padronizadas, uniformizadas, estandardizadas, que vivem de um pensamento que não é individual, mas coletivo, que não procede das profundezas mentais de cada um, mas dos caprichos e das paixões da demagogia. Para os homens de 1789, “governo do povo” é governo da massa. Para os católicos, é a participação, na coisa pública, de uma sociedade orientada por elites.

Estabelecidas estas noções gerais, salientamos a justeza das observações do Santo Padre Pio XII sobre o sufrágio universal, mera contagem numérica de votos, em que as opiniões dos eleitores são tomadas em consideração apenas segundo sua quantidade, e que, pois, é muito mais adequado a exprimir a opinião da massa, do que o pensamento do verdadeiro povo.

O problema que a esta altura se põe é o seguinte: se, segundo a doutrina católica, “governo do povo” absolutamente não é o que entendem os homens de 1789 (“entendem”, dizemos, e não “entendiam”, pois hoje em dia há mais homens de 1789 do que em pleno terror, já que o número dos revolucionários não fez senão crescer continuamente), como existiria na ordem concreta dos fatos o que a Igreja entende por legítimo “governo do povo”?

Vida orgânica e unitarismo mecânico

Voltemos ao texto da alocução pontifícia. Lendo-a com atenção, veremos que Pio XII estabelece uma série de antíteses:
a — o mundo deve “libertar-se da engrenagem de um unitarismo mecânico”, para chegar a uma organização que “se harmonize com o conjunto das relações naturais, com a ordem normal e orgânica que rege as relações particulares dos homens e dos diversos povos”;
b — este “unitarismo mecânico” existe atualmente “no campo nacional e constitucional” sob a forma de um “culto cego do valor numérico”. Em outros termos, “o cidadão é eleitor. Mas, como tal, não é ele na realidade senão uma das unidades cujo total constitui uma maioria ou uma minoria que o simples deslocamento de algumas vozes, quando não de uma só, basta para inverter. Do ponto de vista dos partidos políticos, o eleitor não conta senão por seu poder eleitoral, pelo concurso que seu voto dá”. Pelo contrário, se deveria tomar em consideração também “sua situação, seu papel na família, e na profissão”, do que os atuais sistemas de voto absolutamente “não cogitam”;
c — Este “unitarismo mecânico” se manifesta “no campo econômico e social” no sentido de que “não há qualquer unidade orgânica natural entre os produtores”, e pelo contrário, “o utilitarismo quantitativo, a mera consideração do lucro é a única norma, que determina os lugares de produção e a distribuição do trabalho, desde que é a classe que distribui artificialmente os homens na sociedade e não mais a cooperação na comunidade profissional”;
d — “no campo cultural e moral”, em lugar de imperarem “os valores objetivos e sociais, a liberdade individual, desembaraçada de todos os liames, de todas as regras, de todos os valores objetivos e sociais, não é na realidade mais do que uma anarquia mortal, sobretudo na educação da juventude”;
e — na esfera internacional, é preciso evitar que penetrem na futura organização do mundo “os germes mortais do unitarismo mecânico”, e, pelo contrário, é necessário que essa organização “favoreça em toda a parte a vida própria de uma sadia comunidade humana, de uma sociedade cujos membros concorrem todos juntos para o bem da humanidade inteira”.

Liberdade cristã e mecanicismo revolucionário

Nestes contrastes, se delineiam com nitidez dois caminhos, um que se deve seguir, e outro que se deve evitar. Precisemos, por um confronto, ambas as linhas, situando o pensamento pontifício no quadro geral da doutrina tradicional.
I - Doutrina Católica: Os homens são naturalmente desiguais por seu valor intelectual e moral, por sua capacidade artística, por sua constituição física, pelas tradições de que vivem, pela educação que receberam, e por todas as pequenas particularidades individuais, de alma e de corpo, que resultam do que um ser tem de mais profundo e peculiar, e que caracterizam sua personalidade. Deste fato natural decorre a estrutura hierárquica da sociedade.
Pensamento Revolucionário: Nega a estrutura hierárquica da sociedade, e, em consequência, não toma em nenhuma consideração as desigualdades de alma e de corpo dos homens, bem como de suas características individuais. O Estado não conhece homens concretos, como são na vida e na realidade, mas homens em tese, homens em abstrato, homens apessoais e anônimos.
II - Doutrina Católica: Segundo a lógica dos fatos, a ordem natural das coisas, expressa através das mil e mil desigualdades legítimas existentes entre os homens, dá naturalmente origem a toda uma série de relações entre pessoas, famílias, grupos sociais, grupos econômicos ou profissionais, classes, que são produzidas pela própria realidade, e constituem o jogo fecundo das forças vivas da sociedade.
Pensamento Revolucionário: Tudo isto não é do conhecimento do Estado, e compete ao mero campo da atividade privada. A vida do Estado ignora todos estes fatos, e não os toma em qualquer consideração.
III - Doutrina Católica: A razão de ser do Estado consiste em manter esta vida na linha do Decálogo e do bem comum; em a favorecer de todas as formas; e, pois, em se modelar segundo for necessário para que esta vida siga seu curso, cada vez mais rica em seiva de realidade natural. Vicejam assim livremente as famílias, os grupos sociais, as classes sociais, os organismos que promovem a vida cultural, a caridade, etc. Não há uma lei estatal uniforme para todos. Cada qual se estrutura segundo o costume, as necessidades de cada dia, as circunstâncias históricas, etc. Estes organismos quase infinitamente diversificados entre si nas nações muito vastas e povoadas, devem ter oportunidade de intervir na vida pública, cada qual na medida de sua natureza, de seu papel histórico, da situação que ocupa no conjunto dos outros organismos.
Pensamento Revolucionário: O Estado não toma em consideração toda esta esfera de atividades, porque corre risco de as desnaturar deixando-se impregnar por ela. Este risco se torna mais premente no caso de se formarem grandes famílias, grandes instituições, grandes classes sociais que influenciem o Estado. Pelo que este, que em princípio não deveria conhecer de tais assuntos, intervém neles, para reduzir a seu controle as forças sociais. É o ponto de transição do liberalismo para o socialismo.
IV - Doutrina Católica: O Estado não pode escolher arbitrariamente sua forma de governo. Ele será monárquico, aristocrático ou democrático na medida em que a própria ordem natural das coisas produzir por uma lenta e gradual evolução histórica alguma destas formas.
Pensamento Revolucionário: O Estado deve ser sempre democrático, e dirigir a vida social de sorte que a constituição de aristocracias seja impossível.
V - Doutrina Católica: O modo porque as famílias, e demais grupos sociais intermediários, intervêm na vida política, é constituído aos poucos pela própria vida dos grupos e da sociedade do que por plano meramente teórico e pré-estabelecido.
Pensamento Revolucionário: A forma do Estado é o mecanismo teoricamente escolhido pelos pensadores de 1789. Não resulta da vida, mas de um plano de gabinete. Todo este plano deve ser executado pelas várias unidades sociais como as peças de um mecanismo desempenham o papel pré-estabelecido por quem as ordenou. Movem-se, não pela vida que há dentro delas, mas pelo movimento que lhes vem do Estado.
* * *
Entende-se por aí o que o Sumo Pontífice chama “mecânico”, e o que chama “vivos”. Resta saber qual a relação entre estes conceitos e o culto do número, de que nos fala em sua alocução.

O culto do número e o mecanicismo revolucionário

Número é uma palavra que supõe a noção de quantidade. Bem distinta desta é a noção de qualidade. O culto do número é o estabelecimento de uma ordem de coisas na qual a quantidade seja critério supremo. Evidentemente, tal ordem de coisas é profundamente distinta de outra em que se colocasse no devido realce o fator “qualidade”. Na concepção revolucionária, essencialmente igualitária, o fator qualidade é necessariamente prejudicado em favor da quantidade. Pois se todos são iguais devem ter a mesma cultura, a mesma educação, o mesmo padrão de vida, a mesma influência, o mesmo prestígio. E isto conduz forçosamente à ideia de dar mais valor à alfabetização do que à formação das elites; de tornar mais abundante a produção em lugar de a tornar também melhor; de padronizar e estandardizar tudo, segundo as conveniências do tipo abstrato de homem, ao qual todos se devem nivelar, não lhes sendo lícito ficar aquém ou além do modelo oficial.
Plínio de Oliveira

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

333ª Nota - O Sentido da Vida


A vida tem profundo sentido para o homem que crê. E para o incrédulo? “Non est pax impiis – não há paz para o homem irreligioso” (Is. 48, 22)
Sem fé em Deus, não há possibilidade de encontrar sentido na vida humana. Incredulidade, ateísmo são manifestações de pessimismo existencial. A fé é a vitória do otimismo, porque é a vitória do amor. (...)
Pessimismo ou otimismo – eis a base prélógica do ateísmo e respectivamente da religião. Sem dúvida, haverá em muitos casos uma explicação psicológica. (...)
Mas o argumento psicológico não explica tudo: o problema atinge profundezas metafísicas. Todo o ser tem tendência de se afirmar, afirmando com isso o sentido do universo. Todo o ser existente é, no íntimo, otimista. O pessimismo e a negação de onde vêm? Do fator “limitação”. O ser criado vive sempre na vizinhança do Nada de onde saiu. Somente Deus, “Aquele que é” (Êx. 3, 14), o Ser absoluto, a Plenitude do ser, é incapaz de vacilação, dúvida e negação. Pela criação, Deus chamou o homem a participar desta qualidade divina: de ser. A criação é para nós um mistério de amor e generosidade. É um milagre de amor; não tanto em Deus nos fazer, mas em retirar-se, esconder-se, diminuir-se, por assim dizer, pois nos é inconcebível como Deus não é tudo, como Seu poder não se estende até todos os limites. Mas o fato é que a criação não se identifica com Deus. Deus, para criar o universo, não usou tanto de Seu poder quanto de Sua generosidade, eclipsando-se, não estendendo o Seu poder até o limite. “A criação é da parte de Deus um ato, não de expansão, mas antes de retraimento, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos que Deus só. Deus aceitou essa diminuição. Deixou uma parte do ser vazia de Si” (Weil, Simone – Espera de Dios, 1954, p. 98). Essa parte vazia de Deus, vazia do “Ser” – eis o Nada que explica o mal e as imperfeições existentes neste mundo.
O mal, diz Santo Tomás de Aquino, não é nada positivo; é ausência, carência do ser. O conceito “criação” implica necessariamente em “mal” nesse sentido: em imperfeição, em limitação do ser. Pois, uma criação absolutamente perfeita é um contrassenso. Somente Deus possui a plenitude do ser, somente Ele é perfeito em sentido absoluto. E Deus não pode criar outro Deus. O ato da criação foi, pois, antes de manifestação de poder e grandeza, generosidade, renúncia ao poder. O “mal”, a imperfeição existente neste mundo é prova clara que Deus, por assim dizer, se retirou: se não o tivesse feito, não existiria o “mal”, porque não existiria criatura humana.
Nossa existência é certamente um bem: pois é participação do “Ser”. Mas também um “mal”: porque é forma limitada de “ser”. A própria palavra “existência”, tão em voga atualmente, revela essa situação. Deriva-se do latim “ex-sistere”, colocar-se fora. Existência é saída de Deus. Isso implica o estarmos expostos, desprotegidos, ameaçados, em vizinhança perigosa com o nada, com o mal. O “mistério da iniquidade” está justamente nisso: como é que o “Nada”, o mal, exerce tal influência sobre a criatura que ela o prefira à plenitude de ser a vida encontrada em Deus? Por que é que os homens “amam as trevas mais do que a luz”? (Jo. 3, 19). A carência mais do que a plenitude? O mal mais do que o bem? Pois essa preferência do “mal”, da carência do ser, é o verdadeiro mal, o mal moral: o pecado.
No pecado, concretizou-se o perigo da “ex-sistência”: caímos, sem segurança nem apoio, num abismo sem chão: no nada. A simples existência já era saída de Deus; mas o homem permanecia sustentado por Deus, envolvido pelo calor de Seu amor paternal. Pelo pecado, colocou-se fora, até às trevas exteriores, realizou até ao máximo o potencial negativo da criatura, o seu caráter “existencial”. Emancipou-se, escapou da mão de Deus, iludido pela sugestão diabólica: sereis emancipados, sereis semelhantes a Deus, conhecendo o bem e o mal. (...)
Pelo orgulho que quer fugir do mal das limitações, cai o homem no verdadeiro “mal”, no mal moral, no pecado, na revolta contra Deus e prepara com isso sua própria destruição e morte. (...)
Em Cristo, revelou-se-nos o sentido da vida humana, o sentido da humanidade e de todo o universo. Pois “tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col. 1, 16). (...)
O grandioso desígnio secreto que Deus tinha estabelecido consigo mesmo, consiste em “restaurar em Cristo todas as coisas, quando tivesse chegado a plenitude dos tempos, assim as que há nos céus, como as que há na terra” (E. 1, 10).
A palavra “restaurar” não traduz fielmente o sentido do original. A palavra correspondente no grego significa resumir, no fim de um discurso, os pontos principais; mais exato seria “recapitular” – colocar tudo debaixo de uma cabeça, sob um denominador comum. “No princípio era o Verbo”, diz São João (1, 1). (...) No fim dos tempos vai Deus “recapitular” o Seu discurso: resumindo tudo num só ponto, colocando tudo debaixo de uma cabeça: Cristo, Verbo encarnado. Somente nEle tem o Pai as Suas complacências. E somente quem estiver em Cristo e na medida em que estiver incorporado nEle, agradará ao Pai: “Ninguém vem ao Pai senão por Mim” (Jo. 14, 6), “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e a quem o Filho O revelar” (Mt. 11, 27).
A volta para Deus, isto é, a plena realização da vida humana, somente se consegue em Cristo e por Cristo. Fora de Cristo não há salvação.
Excerto de O SENTIDO DA VIDA, de Dom Valfredo Tepe (OFM)

terça-feira, 24 de outubro de 2017

332ª Nota - Infâmia



“A técnica da infâmia consiste em inventar duas mentiras e fazer com que o povo discuta calorosamente qual das duas é a certa.” Ezra Pound (1885-1972), poeta, músico, tradutor e crítico literário americano.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

331ª Nota - A História Secreta do Brasil_3


“Há duas histórias, a oficial, mentirosa, Ad Usum Delphini, e a secreta, em que estão as verdadeiras causas dos acontecimentos, história vergonhosa.” (Balzac, Les Illusions Perdues – t.III)
O tráfico de carne humana
DEPOIS de haver sido a terra do pau-de-tinta, o Brasil era o açúcar e o açúcar era o negro, afirma documentado historiador de nossos dias. Está de acordo com o velho cronista Antonil que assegura serem os escravos pés e mãos dos senhores de engenho. É a mesma opinião que se encontra no Breve discurso sobre o estado das quatro capitanias conquistadas: sem escravos, os engenhos não podiam moer. Monocultura latifundiária, a da cana de açúcar, exigia enorme massa de escravos. Florescia, pois, o comércio de carne humana à medida que prosperava a Indústria açucareira. O suor do negro cimentava a riqueza do segundo ciclo da colonização. Ligados, o comércio de escravos e a produção do açúcar, acabariam caracterizando toda a economia ultramarina. A escravização do índio, tupi ou gé, realizada a principio brutalmente; depois, legalizada pelas famosas cartas-régias, pelos alvarás e provisões das guerras de corso e pelas condenações ao cativeiro, não satisfez as exigências de mão-de-obra para o plantio e moagem da cana. O índio furtava-se pela fuga, pela resistência, pela selvatiqueza e pela própria morte ao trabalho braçal, ao papel forçado de coolie a que o colonizador o queria submeter. Era inadaptável e indomável. Morria aos montões, de clara o padre Antônio Vieira. E sua captura custava maior desperdício de gente e de esforços do que a obtenção do transporte dos negros da África. Demais, o catequizador, alçando a cruz, defendia o indígena e o aldeava. Por isso, segundo Gilberto Freyre, os jesuítas eram “inimigos terriveis dos senhores de engenho”. A luta entre padres e escravizadores foi longa e áspera. Começou em Piratininga com o judeu cohen João Ramalho e terminou, infelizmente, com a vitória dos escravizadores. Foi mais acesa em São Paulo, porque ali o sítio merecia melhor acolhida à imigração judia. No Norte, os senhores de engenho viviam endividados, presos à usura judaica. O judaísmo os manobrava e forçava a lançar mão do operário africano, que os negreiros, também enfeudados a Israel, iam buscar do outro lado do oceano Atlântico. Assim, desde os albores do ciclo do açúcar, começou o emprego da mão-de-obra negra. O horror à atividade manual e a instituição do trabalho escravo, ambos caracterizadores das colonizações peninsulares, tiveram como primeiros impulsionadores os judeus de Portugal. A metrópole estava sob o domínio judaico, que se exercia através de uma rede de créditos, do giro de fundos, das alianças de sangue, do exercício dos cargos técnicos, da usura, da agiotagem, da corrupção, da própria influência dos médicos, na quase totalidade hebreus, no seio das famílias, influência que contrastava até a dos capelões, curas e confessores. Ali, desde o recuado tempo das monarquias visigóticas, os judeus haviam se especializado no comércio de escravos. O que estava de pleno acordo com o código judaico CHOSCHEN HAMISCHPOT, em 227, 26: “É permitido explorar um não judeu, porque está escrito que não é permitido explorar seu irmão”. Como negar ainda a intromissão judaica no tráfico de carne humana, quando um judeu de nota declara textualmente que: “Não há exagero em afirmar que não há quase fato histórico de importância nos quatrocentos anos de vida nacional, no qual não tenham influido ou colaborado, ás vezes proeminentemente, elementos de raça hebraica*”. Ora, que fato de maior importância histórica para nós do que a escravidão? O comércio de escravos é tão fundamentalmente semita que sempre foi denominado tráfico fenício.

*Dr. Isaque Izecksom. “A contribuição judaica na formação da nacionalidade brasileira”, in “Almanaque Israelita do Brasil”, ed. Samuel Weiner, Rio 1935.

Excerto de A História Secreta do Brasil (Vol. 1), de Gustavo Barroso, advogado, professor, museólogo, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta, romancista brasileiro, foi membro da Academia Brasileira de Letras (8/3/1923), da Academia Portuguesa da História, da Academia das Ciências de Lisboa, da Royal Society of Literature de Londres, da Academia de Belas Artes de Portugal, da Sociedade dos Arqueólogos de Lisboa, do Instituto de Coimbra, da Sociedade Numismática da Bélgica, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e de vários estados, das Sociedades de Geografia de Lisboa, do Rio de Janeiro e de Lima. A 27 de junho de 1919 foi feito Oficial da Ordem Militar de Cristo, a 7 de junho de 1923 foi elevado a Comendador da mesma Ordem de Portugal, a 5 de fevereiro de 1941 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública e a 22 de maio de 1950 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal. 

terça-feira, 17 de outubro de 2017

330ª Nota - A História Secreta do Brasil_2



“Há duas histórias, a oficial, mentirosa, Ad Usum Delphini, e a secreta, em que estão as verdadeiras causas dos acontecimentos, história vergonhosa.” (Balzac, Les Illusions Perdues – t.III)

Depois de caído Portugal sob o dominio Espanhol, o número de famílias judaicas no Brasil não cessou de aumentar*. No reinado de Filipe III, o alvará de 4 de abril de 1601, conseguido pelo Kahal a peso de ouro, e a bula papal de 23 de agosto de 1604, que custou à judiaria um milhão e seiscentos mil cruzados, permitiram aos cristãos-novos deixar as terras peninsulares e sair dos cárceres inquisitoriais. Mal se apanharam soltos, foram vendendo o que tinham e fugindo. Assim, quando veio a cobrança do que haviam prometido dar pelo alvará e pela bula, o rei não conseguiu receber nem a metade. Indignado, o soberano revogou a licença de salda e estabeleceu a obrigatoriedade dos engenhos brasileiros. Da Holanda se mandavam por ano, para o Brasil, 3 a 4 mil Bíblias em hebraico, como já vimos que eram mandadas para a Índia, o que documentam as denunciações do Santo Ofício. Para o Brasil e para a Europa, o século XVI fora o do pau-de-tinta, das anilinas, por assim dizer; o século XVII foi o do açúcar. Nas primeiras décadas do centenário, o desenvolvimento da indústria açucareira se tornou impetuoso. Em 1610, segundo um viajante observador, era o único meio de vida. Os preços subiam ao ponto de criar nos senhores de engenho esse delirio de gastos, grandezas e luxo, que vimos contemporaneamente nos donos de seringais da Amazônia e nos fazendeiros de café... É o que dizem os cronistas: Cardim, Soares, Barlaeus, Frei Vicente. Segundo os estudos de J. Lúcio de Azevedo, em 1610, a produção de açúcar foi de 735 mil arrobas, no valor de 1.500 contos, soma respeitável para a época. O trabalho braçal do escravo, a fortuna dos fidalgos e sua iniciativa, bem como as de outros portugueses cristãos, criaram no Brasil o Empório do Açúcar. Nas trevas, unidos os de Portugal, os da colônia nascente e os da Holanda pelos seus Kahals, os judeus exploram essa riqueza como intermediários, armadores, especuladores, fornecedores de capitais, onzeneiros cruéis. Mas isso ainda não é bastante para eles: precisam apoderar-se do empório, dominá-lo completamente, fazer pesar sua mão-de-ferro sobre os ricos e senhores de engenho, orgulhosos de sua linhagem e de sua crença, e tirar vingança dos soberanos peninsulares, arrancando precioso florão de sua coroa. Os Estados Gerais da Holanda, regurgitando de ouro judaico, podiam iniciar a desagregação do império colonial luso-espanhol, conquistando o Brasil, terra do açúcar, e Angola, terra do escravo que plantava a cana, aquém e além Atlântico. Que têm sido sempre o judeu senão o fermento desagregador dos impérios e das civilizações? Ele faltaria ao chamamento do seu destino, se não tentasse abocanhar o empório do açúcar, com expedições pagas e companhias organizadas com o dinheiro ganho com o próprio açúcar... 
* Solidonio Leite Filho, “Os judeus do Brasil”, 1923, pág. 49. Os portugueses da Bahia eram geralmente de raça judia, observou o viajante Froger, no fim do século XVII. Cf. Taunay, "Na Bahia Colonial, pág. 291. Por isso, antes dele, diz outro viajante, Pyrard de Laval, eram na maioria, criminosos ou falidos. Como a indústria judaica de falência é antiga!
(Excerto de A História Secreta do Brasil, de Gustavo Barroso, Vol. 1)

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

329ª Nota - A história secreta do Brasil


“Há duas histórias, a oficial, mentirosa, Ad Usum Delphini, e a secreta, em que estão as verdadeiras causas dos acontecimentos, história vergonhosa.” (Balzac, Les Illusions Perdues – t.III)

No dia 24 de janeiro de 1504, D. Manuel fez doação da ilha de S. João a Fernando de Noronha, a qual foi confirmada por D. João III em 3 de março de 1522. Desta sorte, antes de dividindo o Brasil em capitanias hereditárias muito antes das primeiras concessões de sesmarias, origem dos primitivos latifúndios, a coroa portuguesa alienava uma parte do Brasil, dando-a de mão beijada a um judeu traficante do pau-de-tinta, que era a anilina daquele tempo.
Terminou o prazo de arrendamento da costa brasileira em 1506. Fernando de Noronha agenciou, na corte, sua renovação ou prorrogação, obtendo-a por dez anos, em troca do pagamento anual de quatro mil ducados, o que deixa ver que os lucros auferidos no comércio da madeira de tinturaria, único no amanhecer da vida brasileira, não tinham sido de desprezar. Além da prorrogação, os judeus obtinham o monopólio do negócio, pois que o rei se obrigava a não permitir mais o "trato do pau-brasil com a Índia". Era, com efeito, do Oriente que vinha o pau-de-tinta, berzi, ou verzino, segundo Muratori e Marco Polo. O descobrimento do nosso País, em verdade, graças às informações levadas pelo astuto judeu que Vasco da Gama açoitara e conduzira à pia batismal, tivera como resultado a formação, para empregar a linguagem moderna de um TRUSTE DAS ANILINAS. Naturalmente, que era o monopólio do comércio da madeira tintória, desde que o sapang de Java é Ceilão fora corrido dos mercados europeus, senão isso? tanto assim que os navios do consórcio Fernando de Noronha carregavam por ano de nossas matas litorâneas a bagatela de "vinte mil quintais da preciosa madeira"! O primeiro carregamento foi levado logo em 1503, dois anos após o descobrimento. A famosa nau "bretôa", que em 1511 veio ao Brasil carregar o pau, batendo a costa até o Cabo Frio, foi armada e despachada por Fernando de Noronha e seus amigos.
Neste primeiro capítulo da nossa história, encarada por um método novo e verdadeiro, se vêem o palco e os bastidores. No palco: a armada de Cabral com as velas pendentes em que o sol empurpurava as cruzes heráldicas; a cruz erguida na praia, diante da qual um frade diz a primeira missa; um padrão cravado no solo virgem da terra descoberta em forma de cruz, a cruz nos punhos das espadas linheiras que retiniam de encontro aos coxotes de aço fosco; a cruz nas bandeiras alçadas, os nomes de Vera Cruz e Santa Cruz impostos a toda a nova região americana: o idealismo cristão, o heroísmo cristão, o sentido cristão da vida, a propagação da Fé e a dilatação do Império que a gesta dos Lusíadas cantaria com o ritmo do rolar das ondas.
Nos bastidores, manobrando os cenários e arranjando as vestiduras, o judeuzinho de Goa, o cristão-novo Fernando de Noronha, os Cristãos-novos e israelitas do seu consórcio comercial, inspirados pela sinagoga e pelo kahal, realizando o lucro à sombra do idealismo alheio; ganhando o ouro à custa do esforço e do sangue dos outros, apagando o nome da Cruz com o nome do pau-brasil, o que indignou a João de Barros*; usando a epopeia da navegação e o poema do descobrimento para a fundação trivial de um monopólio de anilinas...
(*) "Décadas"... como que importava mais o nome de um pau que tinge panos que daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos por que somos salvos...

(Excerto de A História Secreta do Brasil, de Gustavo Barroso, Vol. 1)

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

328ª Nota - Frases de Alexander Soljenítsin


A sociedade ocidental se expandiu em um triunfo da independência humana e do poder. E, de repente, no século XX, veio a descoberta de sua fragilidade e friabilidade. Vemos, agora, que as conquistas provaram ser fugazes e precárias, e, também, pontos de defeitos da visão ocidental do mundo que levaram a estas conquistas.

É preciso que alguém saliente que, desde os tempos antigos, o declínio da coragem tem sido considerado o começo do fim.

Humanismo sem a sua herança cristã não pode resistir ao materialismo. A situação está se tornando cada vez mais dramática. O Liberalismo, inevitavelmente, foi deslocado pelo Radicalismo; o Radicalismo tem que se render ao Socialismo; e o Socialismo acaba não podendo resistir ao Comunismo.

Cento e dez milhões de russos morreram vítimas do Socialismo...

O pior do Comunismo não é a opressão, mas a mentira.

Tal como é, a imprensa se tornou o maior poder nos países ocidentais; mais poderosa, inclusive, que o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

 A defesa dos direitos individuais chegou a tais extremos que tornou a sociedade como um todo indefesa diante de certos indivíduos. Chegou a hora, no Ocidente, de defender menos os direitos humanos e mais as humanas obrigações.

À uma espécie de liberdade destrutiva e irresponsável foi concedido um espaço ilimitado. A sociedade parece ter pouca defesa contra o abismo da decadência humana, como, por exemplo, o mau uso da liberdade para a violência moral contra os jovens, ou seja, imagens em movimento cheias de pornografia infantil, crime e horror. É considerado como parte da liberdade e, teoricamente, é contrabalançado pelo direito de os jovens não olharem ou não aceitarem estas coisas. A vida organizada legalisticamente, assim, demonstrou a sua incapacidade de defender a sociedade contra a corrosão do mal.

Na sociedade ocidental de hoje, revelou-se a desigualdade entre a liberdade para as boas ações e a liberdade para as más ações. Um estadista que queira realizar algo importante e altamente construtivo para seu país precisa agir cautelosamente, até mesmo timidamente; existem milhares de críticos afoitos e irresponsáveis à sua volta, o parlamento e a imprensa o rechaçam. À medida que avança, ele é obrigado a provar que cada um de seus passos é consistente e absolutamente impecável. Deste modo, a mediocridade triunfa sob a desculpa das restrições impostas pela Democracia.

Apenas a liberdade em nada ajuda a resolver os problemas da vida humana, e ainda acrescenta uma série de novos.

Há um desastre que está em curso há algum tempo. Refiro-me à calamidade de uma consciência desespiritualizada, irreligiosa e desumanizada... Colocamos muita esperança nas reformas políticas e sociais, apenas para descobrir que estávamos sendo privados do nosso bem mais precioso: a nossa vida espiritual. No Oriente, a vida espiritual é destruída pelas maquinações dos partidos no poder; no Ocidente, os interesses comerciais tendem a sufocá-la.

Se o corpo do homem está condenado a morrer, a sua missão na Terra, evidentemente, deve ser de natureza espiritual. Não se deve gozar desenfreadamente a vida cotidiana. A vida não deve se basear exclusivamente na busca das melhores formas de se obter bens materiais e, em seguida, alegremente, tirar o máximo proveito deles. Tem que ser o cumprimento de um dever permanente e sincero, para que esta vida possa se tornar uma experiência de crescimento moral, de modo que um ser humano possa permitir que a vida de outro ser humano se torne melhor do que quando começou. É imperativo rever o quadro generalizado de valores humanos. Sua incorreção presente é impressionante.

(Alexander Soljenítsin, Prêmio Nobel de Literatura, autor de “Arquipélago Gulag”)