quinta-feira, 31 de agosto de 2017

325ª Nota - Respostas aos indiferentes e utilitaristas


1ª Objeção_
Os indiferentes dizem: Deus não necessita da homenagem das criaturas. Portanto, os cultos religiosos são vãos. Esta objeção é formulada assim por Santo Tomás de Aquino: “Nas ofertas feitas pelos homens, algo parece mais louvável quando oferecido aos mais necessitados. Portanto, a religião parece a menos louvável de todas as virtudes pelas quais o homem ajuda os outros”.
Resposta_
Santo Tomás de Aquino: “Nas coisas oferecidas aos outros por causa de sua utilidade, a oferta é mais louvável quando feita ao mais necessitado, porque é mais útil. Para Deus, entretanto, nada é oferecido para sua utilidade, mas para sua glória e para nossa utilidade”.
A objeção supõe o falso princípio do utilitarismo, segundo o qual alguma coisa é um bem a ser feito não porque é honesta, mas porque é algo útil. Essa redução do bem honesto para o bem útil é a demonstração de qualquer obrigação moral que se fundamenta não sobre uma necessidade, mas sobre um direito. A nulidade desta objeção se constata com o bom senso. Se, de fato, ela fosse verdadeira, seria verdadeiro também dizer: o rico não precisa da minha restituição, portanto, eu não lhe devo restituir nada, a restituição é vã. O benfeitor não necessita da gratidão, portanto, a gratidão é vã. Meu pai não necessita de meu respeito; logo, nada lhe devo.

2ª Objeção_
Deus não criou tudo unicamente para sua glória, pois isto seria egoísmo divino; mas ele nos criou para nossa felicidade. Assim afirmam Kant, Hermes, Günther.
Resposta_
Seria egoísmo, se Deus não fosse o Bem Supremo, mas Ele é a própria bondade. Se Ele não fizesse todas as coisas para manifestar Sua bondade ou Sua própria glória, então, ele não teria ordenado tudo para o Bem Supremo, mas, sim, para qualquer bem particular, o que seria uma falha em Deus, isto é, o maior absurdo e a ruína de nossa felicidade.

3ª Objeção_
É próprio do egoísmo subordinar todas as coisas para si mesmo, como se elas fossem servas ou coisas úteis. Deus agiria assim, se ele tivesse feito tudo para sua glória.
Resposta_
Assim seria, se os homens não fossem aperfeiçoados e glorificados por essa subordinação a Deus. Porém, é muito mais glorioso para nós existir para Sua glória do que para nossa própria felicidade. “Na medida em que veneramos e honramos a Deus, nosso espírito se torna submisso a Ele, e nisto consiste a perfeição: toda coisa é aperfeiçoada na medida em que está sujeita ao que é superior a ela, como o corpo é vivificado pela alma e o ar é iluminado pelo sol”. É por isso que reza o Salmo 113: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai glória”.

(Excerto de Dever de receber a Revelação proposta pela Igreja Católica, por dom Garrigou Lagrange, OP)

terça-feira, 22 de agosto de 2017

324ª Nota - O apostolado da FSSPX tem fundamento lógico?


Por reconhecer, faz muito tempo, em Wojtyla a plena possessão da autoridade papal, a Fraternidade não oferece nenhuma base lógica que justifique seu apostolado.

Quando um sacerdote exerce este apostolado em tempos normais, não pode praticar nenhuma atividade sacerdotal sem ser autorizado pela autoridade competente, a saber, o bispo da diocese. É esta autorização que faz que a Missa do sacerdote e seus sacramentos sejam católicos, ou seja, administrados por um agente da Igreja Católica devidamente autorizado. É este defeito de autorização que faz da missa grega ortodoxa uma missa não católica: ainda que validamente ordenado e ainda que diga uma missa válida, o sacerdote não atua em nome da Igreja Católica senão contra ela.

Quando o sacerdote tradicionalista exerce sua função, quando diz a missa e administra os sacramentos sem a permissão do bispo do lugar, deve justificar de uma maneira ou de outra o fato de fazê-lo sem autorização. A única justificação possível que poderia apresentar é a seguinte: “a Igreja quer que o faça”. Nenhuma autoridade o autorizou a dizer a missa e a distribuir os sacramentos, portanto deve ter um argumento coerente e convincente para dizer que a Igreja – Cristo em última instância – quer que assim o faça.

Porém, se o sacerdote tradicionalista diz que a autoridade é revestida por Wojtyla ou pelo bispo do lugar, como pode, então, afirmar que a Igreja quer que exerça um apostolado não autorizado? Se a autoridade de Cristo repousa no bispo do lugar, como pode então a autoridade de Cristo querer que o sacerdote tradicionalista atue contra o bispo do lugar? Se a autoridade de Cristo reside em Wojtyla (NB: ou em Francisco Bergoglio), como pode Cristo desejar que um grupo de sacerdotes exerça um apostolado em desprezo de Wojtyla? Cristo está contra Cristo?

Miremos também a outra face da moeda. Se a autoridade de Cristo não reside em Wojtyla (NB: nem em Bergoglio), como, então, Cristo ou a Igreja autorizaria o apostolado dos que afirmam com insistência que o herege Wojtyla (NB: o herege Francisco) é verdadeiramente o Papa? Como Cristo ou a Igreja pode desejar o apostolado de sacerdotes que intentam levar os fieis ao rebanho dos falsos pastores, de pastores heréticos, de sacerdotes que denunciam como cismáticos aqueles que não reconhecem os falsos pastores?

Tudo isto para dizer que não é possível separar a autoridade da Igreja da autoridade de Cristo, nem também separar a autoridade da Igreja da Igreja mesma. É uma só e mesma coisa. Não se pode, então, pretender representar a Igreja Católica se se atua contra sua autoridade. Não se pode tampouco pretender representar a Igreja Católica se se reconhece uma falsa autoridade. Onde está Pedro, está a Igreja. Se seu apostolado não é de Pedro, seu apostolado não é o da Igreja nem de Cristo. Reconhecer como Pedro aquele que condena seu apostolado, significa condenar, por conseguinte, por sua própria boca, seu próprio apostolado.

Este fato de reconhecer a autoridade do Papa por um lado, porém “atuar por conta própria” por outro lado, é um sinal revelador de numerosos hereges e cismáticos. Era a atitude dos Jansenistas e Galicanos, como também dos Velhos Católicos, e foi condenada pelo Papa Pio IX: “De que serve proclamar alto e bom som o dogma do Primado de Pedro e de seus sucessores? De que serve o repetir a profissão de Fé na Igreja Católica e a obediência à Sede Apostólica, se as ações desmentem as palavras? Por outra parte, o fato de que a obediência seja reconhecida como um dever, não faz a rebelião ainda mais imperdoável? Ademais, que a autoridade da Santa Sé não se estenda à aprovação de medidas que se viu obrigada a tomar, ou melhor, que seja suficiente estar em comunhão de fé com a Sede Apostólica sem agregar a submissão da obediência; não é isto algo que não pode sustentar-se sem dano para a Fé Católica?... Em verdade, veneráveis irmãos e muito queridos filhos, trata-se de reconhecer a autoridade (desta Sede) também sobre vossas igrejas, e não somente no que toca à Fé, senão igualmente no que respeita à disciplina. Quem o negue, é herege; quem ainda reconhecendo, se recuse obstinadamente, seja anátema” (Quae in patriarchatu, 1º/9/1876, ao clero e aos fieis do rito caldeu).

“E Nós não podemos passar em silêncio a audácia daqueles que, não suportando a sã doutrina, pretendem que: ‘Enquanto aos juízos e aos decretos da Sede Apostólica, cujo objeto toca manifestamente ao bem geral da Igreja, aos seus direitos e a sua disciplina, se pode, desde o momento que não concernem aos dogmas relativos à Fé e aos Costumes, recusar-lhes o assentimento e a obediência, sem pecado e sem deixar em nada de professar o catolicismo’” (Encíclica Quanta Cura, 8/12/1864).

A posição da Fraternidade não é, portanto, uma posição católica. Que praticamente toda a juventude da Igreja, os valentes de Israel, tenham a cabeça cheia de princípios não católicos em seu combate contra o modernismo, eis aqui um tremendo desastre. Isto significa que não há nenhuma voz verdadeiramente católica de resistência ao modernismo, exceto a de alguns sacerdotes esparzidos pelo mundo, que denunciam os modernistas como privados da autoridade. É para a Igreja, a montanha de Gilboa. 

(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995)

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

323ª Nota - Um chamado à Fraternidade São Pio X



Vocês têm quase toda a valorosa juventude da Igreja em suas tropas. Em seus seminários, ela é formada para pensar que a coexistência com a hierarquia modernista é a solução para os problemas da Igreja. Por causa disto, nasceram a missa do indulto, a Fraternidade São Pedro e outras organizações do mesmo gênero (Nota do blogue: IBP, Cristo Rei etc.).

Vocês continuam dialogando com os hereges, esforçando-se por serem absorvidos por eles. Vocês denunciam como cismáticos a todos os sacerdotes que declaram que os hereges não têm autoridade sobre os católicos. Vocês os perseguiram, expulsaram, caluniaram, e reduziram muitos à pobreza e miséria.

Ainda hoje, sua organização geme sob as tensões das contradições inerentes a sua posição, e abriga, no interior de seus muros, “liberais” e “conservadores”, que se definem em função do preço que pagam pelo compromisso com os hereges modernistas, considerados por eles como a verdadeira autoridade da Igreja Católica Romana.

Abandonem de uma vez por todas seu desejo de coexistência com os hereges! Declarem guerra aos que destroem nossa Fé! Denunciem-nos como hereges, e adotem a posição católica que considera que não podem ter recebido de Cristo a missão de dirigir a Igreja, aqueles que impõem à Igreja uma fé diferente! A primeira missão da Igreja Católica, antes de tudo é a de dar testemunho da verdade. Nosso Senhor o disse: “Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da Verdade”. Se o Vaticano II não for a verdade, e vocês sabem que não o é, aquele que ensina como sendo verdadeiro à Igreja, não pode ter recebido de Cristo a missão de ensinar a verdade.

Deixem de apoderar-se dos jovens da Igreja que se apresentam a vocês para serem instruídos e de fazê-los os apóstolos de uma impossível teologia que os leva a abraçar o Novus Ordo!

Deixem de ser o Gilboa da Igreja em seu combate contra os filisteus! Sejam como Davi contra a igreja dos filisteus! Tomem uma posição católica contra os inimigos da Igreja, uma posição clara, reta e simples! Denunciem o inimigo como inimigo, e estejam armados não com a diplomacia humana, mas com a fortaleza divina, e derrubem o Golias do Novus Ordo!

Fraternitas, Fraternitas, convertere ad Dominum Deum Nostrum.  
(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995) 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

322ª Nota - Uma falsa noção de Igreja


O problema de fundo da Fraternidade e de seus membros é que trabalham a partir de uma falsa noção da Igreja. Eles miram a eleição de Wojtyla por um colégio de cardeais do Novus Ordo, e daí concluem que é um pontífice legítimo. [Nota do Blogue: E esta conclusão perdura até Francisco. Pasmem!]

E como a dificuldade de estar em comunhão com um herege não lhes sai da cabeça, dizem que João Paulo II [NB: e seus sucessores(!)] é a cabeça de duas igrejas (!!!): uma, a Igreja Conciliar; e a outra, a Igreja Católica. Às vezes, ele fala e atua como chefe da Igreja Conciliar; outras, como chefe da Igreja Católica.

Como saber o que vem de um ou do outro? Por Monsenhor Lefebvre, que recebeu de Deus a missão de pesar os atos e palavras destes “papas” modernistas, e de dizer o que se deve crer, o que se deve fazer e o que se deve pensar. Agora que Monsenhor faleceu, esta autoridade reside no Superior Geral.

Deste princípio se extrai a conclusão lógica de que a infalibilidade e indefectibilidade da Igreja Católica, o depósito da Fé, a salvação de todos os fiéis, estão nas mãos do Superior Geral. A Igreja Católica, a Fé Católica, a validez dos sacramentos, o que devemos crer para nos salvar, tudo foi confiado ao juízo do Superior Geral.

Poder-se-ia comparar este tipo de eclesiologia ou de teologia da Igreja aos “diferentes timbres” das linhas telefônicas. Para a chegada de um fax, você tem um timbre; para uma chamada telefônica, outro. Assim, por analogia, se Wojtyla diz algo católico, você receberá da Fraternidade um determinado soar de timbre; se diz algo modernista, você receberá outro soar de timbre.

Inútil dizer que tal sistema não somente é absurdo, senão que reduz a zero a infalibilidade da Igreja Católica. Num sistema deste gênero, o Papa não é mais a autoridade, mas sim o Superior Geral da Fraternidade São Pio X.

Seu sistema é defeituoso no sentido de que não compreendem que é a detenção da autoridade papal o que faz que o Papa seja Papa. Esta autoridade garantida pelo Espírito Santo em matéria de doutrina, moral, liturgia e disciplina geral, não pode prescrever para a Igreja falsas doutrinas ou leis más que o fiel tenha a necessidade de rechaçar e que deva necessariamente resistir. Porém, no geral, o movimento tradicionalista postula o rechaço sistemático da doutrina, moral, liturgia e disciplina geral do Novus Ordo, ao ponto de desenvolver um apostolado em oposição ao do “Papa” e dos bispos das dioceses. Atua assim porque sabe, a justo título, que a doutrina, moral, liturgia e disciplina geral do Novus Ordo estão condenadas pelo ensinamento anterior da Igreja Católica Romana. Porém, se é necessário resistir a sua doutrina, moral, liturgia e disciplina geral, é preciso concluir que estes “papas” não detêm verdadeiramente a autoridade papal, e que não são consequentemente verdadeiros Papas. E assim é, qualquer que seja o procedimento eleitoral que os designou para o cargo. A eleição não faz mais que designá-los para receber o poder, não lhes comunicando o poder por força dela. O poder deriva de Cristo; e é por esta mesma razão que nossa submissão ao Papa é uma submissão a Cristo.

Contudo, considerar que os “papas” do Novus Ordo são verdadeiros papas – o que pensa a Fraternidade – equivale a identificar a Igreja Católica com eles, pois onde está Pedro, está a Igreja. Ademais, identificar a Igreja Católica com eles, estabelece uma espécie de atração gravitacional exercida sobre os membros da Fraternidade por João Paulo II [NB: e seus sucessores.] e sua religião. De todo modo, por um caminho ou por outro, a Fraternidade deve reintegrar-se ao regaço de Wojtyla. Esta atração gravitacional para o Novus Ordo, considerado como a Igreja, é a responsável pelo liberalismo dos sacerdotes da Fraternidade e das numerosas defecções em favor do Novus Ordo ou da Fraternidade São Pedro.

Esta noção de duas Igrejas: uma católica e outra conciliar, não é conforme à realidade. A realidade é que Wojtyla foi eleito para ser um Papa católico, e que pretende ser o Papa católico. Não pretende outra coisa a não ser o Chefe da Igreja Católica. A realidade é que se trata de flanquear as estruturas da Igreja Católica por uma nova religião: o modernismo. Pelo fato mesmo de intentar substituir a Fé Católica por uma nova religião, é impossível que possua autoridade papal que pretende ter, ou parece ter, ou que tenha sido designado para ter. Por quê? Porque a natureza da autoridade é a de levar a comunidade para seus próprios fins. E sendo um dos fins essenciais da Igreja Católica a mantença da Fé Católica, qualquer um que intente pôr obstáculo a este fim não pode ser considerado detentor da autoridade da Igreja Católica, que é a autoridade de CristoPor conseguinte, é impossível que os “papas” do Vaticano II sejam verdadeiros Papas, já que querem para as estruturas da Igreja um fim essencialmente desordenado.

A Fraternidade não mira mais que as estruturas externas da Igreja, enfatiza a continuidade que estas apresentam entre os períodos pré e pósconciliar, e disto conclui que o Novus Ordo é a Igreja Católica. O clero modernista está de fato na posse das estruturas católicas, porém isto não significa que represente a Igreja Católica.

É desta forma que a Fraternidade está presa à hierarquia modernista, em posse de nossos edifícios católicos. Esta atração fatal é devastadora, pois faz de seu combate a obtenção do reconhecimento por parte dos modernistas. Esta “legitimidade” que os modernistas podem conceder não tem nada de legitimidade, não é mais que uma aparência, e a custa da pureza da Fé Católica. A Fraternidade está deslumbrada, hipnotizada por esta vã esperança de “legitimidade”, algo como um cachorro perdido em uma autopista que, deslumbrado, se detém com as luzes de um automóvel que vai a sua direção, acontecendo assim um fim trágico.  Em face desta iníqua tentativa dos modernistas de pôr em marcha seu plano, que consiste em encher de abominações nossas igrejas católicas, é o mais solene dever dos católicos o denunciá-los como falsas autoridades, e, então, tomar uma posição católica que preserve a infalibilidade e indefectibilidade, uma posição que recuse identificar a Igreja Católica com uma falsa hierarquia investida de uma falsa autoridade.

(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

321ª Nota - O futuro do Movimento Tradicionalista


Gostem ou não, o futuro do movimento tradicionalista está em grande parte unido ao da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, pelo menos nos seus atuais membros. Nestes tempos de crise da Igreja são eles que têm as vocações sacerdotais, e, como tais, são eles os valentes de Israel.

Como um míssil lançado fora da sua trajetória por uma má pontaria, estas vocações, sacerdotes e seminaristas, avançam com toda rapidez na direção de uma reconciliação com os inimigos da Igreja. Nada agradaria mais aos modernistas e ao demônio. Quase toda a energia, toda a força da fé católica concentradas em um exército que não luta.

Assim, é inevitável que muitos membros da Fraternidade terminem se rendendo ao Novus Ordo de uma forma ou outra. É provável que a Fraternidade conclua um acordo com o Novus Ordo, que obtenha o “reconhecimento” nos termos considerados por ela como mais aceitáveis que os do acordo com a Fraternidade São Pedro, e que se veja assim absorvida pela religião modernista. Em minha opinião, tal acordo provocaria a defecção de 20% de seus atuais aderentes, que sairiam e se reagrupariam, porém somente para recomeçar o mesmo processo [Nota do blogue: Bingo! Isso se realizou, e sem necessidade de acordo, na Fraternidade de Dom Williamson e seus seguidores, que por sua vez já está implodindo.]. Estes retomarão a tocha do lefebvrismo, de uma absurda teologia da Igreja, um pé em cada uma das duas religiões, católica e modernista, continuando o filtro de documentos e decretos do Vaticano. E inevitavelmente, este grupo de 20%, devido às tensões e contradições explodirá outra vez.

O verdadeiro futuro do movimento tradicionalista, que é também o futuro da resposta católica ao inimigo modernista, encontra-se na posição católica sobre a autoridade papal e da natureza da Igreja Católica. É por isso que considero da mais urgência e suprema necessidade que nós, sacerdotes e leigos, que não queremos compromissos com o inimigo, trabalhemos juntos no estabelecimento de seminários católicos. E não é menos importante que os jovens que saem de nossas “paróquias” renunciem aos múltiplos atrativos do mundo e se ofereçam à Igreja pelo santo sacerdócio. Se faltarmos com este dever – formar sacerdotes católicos adequada e corretamente preparados –, faltamos com Deus em não ter protegido o nosso bem mais precioso: nossa Fé Católica. E este tesouro sagrado que nos foi transmitido com um zeloso cuidado por nossos ancestrais, às vezes pelo preço de seu próprio sangue, será, por nossa negligência, lançado como migalhas aos cachorros modernistas.

Não podemos nos subtrair do dever de formar sacerdotes católicos que em nossa época pensam correta e justamente, saibam quem é o inimigo da Igreja, onde está e desejam combatê-lo com zeloso e sagrado ardor, ao invés de firmar um compromisso com ele. Se faltarmos com este dever, receberemos o que merecemos: essas capelas e escolas que nos preservaram com tanto esmero e esforços do modernismo serão tomadas pelas mãos de sacerdotes – ainda que validamente ordenados – que traíram a pureza da Fé Católica, fazendo-se reconhecer pelos hereges modernistas.

(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995, http://www.catolicosalerta.com.ar/fraternidadspx/gelboe.htm)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

320ª Nota - O abraço fatal de João Paulo II em Monsenhor Lefebvre


O Abraço Fatal

Os poucos dias concedidos a Luciani correram e foi eleito o atual e aparentemente imortal Wojtyla, em outubro de 1978, como terceiro “Papa” do Vaticano II. Monsenhor Lefebvre quis ver o novo “Papa”. O encontro teve lugar pouco tempo depois da eleição de Wojtyla. No curso desta conversação histórica, Wojtyla declara a Mons. Lefebvre que podia continuar tudo “aceitando o Concílio Vaticano II à luz da tradição”; fórmula que Monsenhor utilizou sempre em sua tentativa de coexistência com o Novus Ordo. Isto significava, para Monsenhor, avaliar o Concílio para reter somente o que era católico; para Wojtyla, ter outra cor no espectro das ideias. Para Monsenhor Lefebvre era a renovação das esperanças, alimentadas durante o pontificado de Paulo VI, de receber a aprovação da parte do Novus Ordo; para Wojtyla, era o meio de reintegrar os tradicionalistas na “High Church”. Para Mons. Lefebvre, era a esperança de obter uma capela lateral tradicionalista no interior da catedral modernista; igualmente para Wojtyla. Reunindo esta esperança de reconciliação, Wojtyla deu a Monsenhor um abraço fatal. A guerra terminou.

(Excerto de “A Montanha de Gilboa – O caso da Fraternidade São Pio X”, por Dom Donald J. Sanborn, 1995, http://www.catolicosalerta.com.ar/fraternidadspx/gelboe.html)

terça-feira, 15 de agosto de 2017

319ª Nota - A Igreja no fim dos tempos


“As igrejas se lamentarão com grande lamentação, porque não se oferecerá mais oblação, nem incenso, nem adoração aceitável a Deus. Os edifícios sagrados das igrejas serão como choças; e o precioso Corpo e Sangue de Cristo não se manifestarão naqueles dias; a liturgia se extinguirá; cessará o canto dos salmos; a leitura da Sagrada Escritura já não será escutada. Porém haverá trevas sobre os homens, lamentação sobre lamentação, aflição sobre aflição. Então, a Igreja será dispersa, lançada no deserto, e será por um tempo, como era no princípio, invisível, escondida nas catacumbas, nas covas, nas montanhas, nos lugares escondidos. Por um tempo será varrida, por assim dizer, da face da Terra. Tal é o testemunho universal dos Padres dos primeiros séculos.

Cardeal Manning

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

318ª Nota - João XXIII, o Mau


Yves Congar, O.P. “A Igreja Católica entrou em um processo de reforma interna nunca antes visto em toda a história. Eu nunca soube de uma maneira precisa o que João XXIII queria dar a entender com a palavra AGGIORNAMENTO, vocábulo utilizado universalmente na atualidade”. E “João XXIII soube criar, em poucas semanas, um clima eclesial novo. A mais ampla abertura jamais vista DE CIMA. De um só golpe, as forças renovadoras, que podiam tão somente se manifestar, agora podem difundir livremente suas atividades”.


João XXIII: “Não vejo razão alguma para que um cristão não possa votar num marxista se julgar que este é mais apto para seguir uma determinada linha política e destino histórico”

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

317ª Nota - Apocalipse



Já temos todos os indícios. “Não precisamos mais analisar. Temos um falso Papa, uma falsa missa, um falso ecumenismo, uma falsa música, um falso Evangelho, falsos clérigos, uma falsa renovação, uma falsa 'lectio', uma falsa teologia, uma falsa mística, uma falsa misericórdia e uma falsa justiça. Disto tudo sucederá o colapso da falsidade ou o império escravista com suas terríveis consequências.” (Dr. Carlos Disandro, La Hostería Volante n.º 27 – Julho de 1971)

Estamos no princípio da fase final: o império da falsidade ou o reino do anticristo. Tudo o que nos rodeia é uma mentira, tanto no mundo como na instituição “católica” Vaticano II; e o desastre espiritual cresce em forma exponencial. Não me surpreenderá nem para alguns poucos que o fim esteja próximo. Fim apocalíptico, que reduzirá a maioria das pessoas ao nada, a um profundo desespero, a uma aflitíssima angústia e a um susto terrífico. Elas não entenderão as inúmeras e tamanhas desgraças que assolarão todo o orbe, e não poderão lidar com isso, porque foram ensinadas a viver sem Deus e a servir ao mundo, que nesse momento entrará em ruínas, convertendo tudo o que conheceram em um inferno. E as que sobreviverão invejarão os mortos; e o pior, terão suas almas perdidas, pois viveram sem Deus e morreram sem Ele. 

terça-feira, 8 de agosto de 2017

316ª Nota - Sedevacantismo versus Antissedevacantismo


Vivam Cristo e Maria!
Prezado Sedevacantista,
Relendo o texto, questiono: não seria temerário afirmar-se sedevancatista? Por quê? Porque a interpretação correta sobre a questão do papado não depende das teorias de especialistas, por mais doutos e piedosos que sejam. A interpretação correta sobre a questão do papado depende inteiramente da autoridade de Deus e de Sua Santa Madre Igreja. Portanto, isto se fará pelo Magistério da Igreja, e não pela opinião de teólogos, por mais abalizados que sejam os seus argumentos. Ademais, chega-se a seguinte conclusão: o texto acerta quando reconhece que há uma crise na Igreja, mas os princípios com os quais considera esses fatos estão equivocados e, por consequência, erra quando tira conclusões disso. Um primeiro ponto é que o autor tem uma noção equivocada do Magistério. Todo autor sério sempre mostrou que a autoridade de um teólogo, ou de muitos teólogos, não se equipara com a autoridade da própria Igreja quando ensina. As “notas teológicas” (os graus de autoridade) são muito distintos. O texto é principalmente de teologia positiva, não se baseando tanto em silogismos teológicos (premissa de razão + premissa revelada = conclusão teológica), senão em citações de muitos autores. O autor cita a opinião de muitos autores e, com isso, conclui que “A única explicação para esses erros e males que preserva as doutrinas da indefectibilidade e da infalibilidade da Igreja é a de que os clérigos que os promulgaram perderam de algum modo como indivíduos a autoridade…”. (Há um erro aqui: não é a “única” explicação, mas gostaria de chamar atenção a outro fato: a autoridade do Magistério.) O autor equipara a autoridade de muitas citações de autores importantes à autoridade do Magistério, e isso é inaceitável. Quando um teólogo fala, é a voz de um teólogo. Quando a Igreja docente fala, é a voz de Cristo: “Quem vos escuta, a Mim escuta”. Concordamos que é escandaloso o que os Papas conciliares fazem e ensinam. Mas a afirmação de que por isso perderam a autoridade é algo que não temos como solucionar: os teólogos dão sua opinião, mas não há definição do Magistério que dê certeza sobre o tema. Um católico não é homem de opinião, é homem da verdade. Não podemos agir positivamente baseados em opiniões: precisamos pelo menos de certeza moral. Não há nenhuma declaração do Magistério definindo o assunto, que não é simples. A opinião dos teólogos ajudar a formar uma opinião em nós, mas a opinião deles não é causa proporcionada de certeza em nós. A opinião de teólogos, ainda que sejam 1.000, ainda que sejam doutores, não se equipara à autoridade do Magistério. Isso é fundamental para um católico, e o autor se equivoca quando equipara ambos (teólogos e Magistério). Basta, para dar um exemplo, ver a opinião de um teólogo importantíssimo, Santo Tomás: ele duvidava da Imaculada Conceição. Sua opinião é fundamental, é um doutor da Igreja. Mas no dia em que o Magistério definiu o dogma da Imaculada Conceição, a opinião de um grande teólogo não podia mais ser seguida: temos a certeza da Igreja. Não se compara a autoridade de um teólogo com a autoridade da Igreja. Nesse ponto, o autor do texto erra grosseiramente, pois ele extrai uma certeza de onde não há mais que opinião teológica. Nossa certeza vem de Cristo e da sua Igreja, os quais nunca resolveram terminantemente as questões que pendem sobre o tema. Em resumo, há um erro sobre a noção de Magistério (o que é o Magistério e qual sua autoridade) e sobre a autoridade dos teólogos (equiparada à do Magistério). Outro erro grave, porém mais visível, é sobre a infalibilidade. O autor afirma que alguns tradicionalistas dizem que os atos do Magistério são dogmáticos (e, portanto, infalíveis) ou, se não forem dogmáticos, então são falíveis. Ele diz que isso está errado: em parte ele tem razão, isso é errado mesmo. Mas ele afirma o extremo oposto: todo ato do Magistério é absolutamente infalível. De um excesso, passou a outro. E ele exagera de modo notável: se o Concílio Vaticano I deu condições ao falar da infalibilidade (4 condições), então, é absurdo querer afirmar categoricamente infalibilidade onde o Concílio explicitamente não afirmou, ou seja, infalibilidade absoluta em tudo (decretos disciplinares e leis). Os membros que trabalharam no Concílio Vaticano I, ao explicarem sobre a infalibilidade, afirmam algo mais preciso: o grau de infalibilidade está de acordo com a autoridade empregada. Se o Papa afirma com sua autoridade querendo impor, não pode se equivocar. Se ele afirma com certa autoridade sem cumprir com aquelas condições, realmente há certa infalibilidade e assistência do Espírito Santo para que não possa errar quanto ao essencial, ainda que possa haver imprecisões quanto aos detalhes.
Saudações marianas.
A. jmjtj+

Caro Antissedevacantista, Salve Maria!
Sem querer desculpar minha extensa demora, vejo agora por este seu segundo comentário que o Bom Deus, em Sua infinita misericórdia, tirou um grande bem do mal de minha negligência em responder logo a tamanha insensatez, de modo que esse silêncio talvez culpavelmente prolongado acabe se mostrando, quem sabe, até mesmo providencial, pois foi ocasião de você expor tão explicitamente e pormenorizadamente a falta de doutrina e de espírito católico que você carrega por influência, sobretudo, da fraternidade ...
Serei bem direto: a infalibilidade das leis eclesiásticas universais não é “opinião” de teólogos.  Nenhum católico é livre de negar essa infalibilidade, nem sequer de pô-la em dúvida. A negação dessa infalibilidade é matéria de pecado mortal. (vide o Manual do Pe. Cartechini para uso do Santo Ofício sob o Papa Pio XII.)
Sendo assim, professar o sedevacantismo como fazemos aqui, longe de ser “temeridade”, é uma conclusão sobre a qual se pode ter certeza, tanto mais que, sem ela, o tradicionalismo sedeplenista como o seu se constitui em escândalo ininterrupto e, objetivamente, equivale a esbofetear nossa Santa Mãe Igreja com a contínua acusação de que Ela seria (Deus os perdoe pela terrível blasfêmia!) adúltera.
E me limito aqui a apontar a ofensa à castidade da doutrina, sem entrar na questão das múltiplas usurpações da Autoridade do Vigário de Cristo e de Seu Corpo Místico.
Deixo-lhe agora quatro citações do Magistério que condenam as posições que você acaba de expor, mas que não são suas e, sim, do ambiente doutrinariamente corrompido e de espírito protestantizante que você frequenta. Que a Santíssima Virgem, Mãe do Bom Conselho, possa se utilizar destas quatro verdades para tirar-lhe, de uma vez, as escamas dos olhos:
(1) Infalível não é somente o que é definido solenemente pelos Concílios ou pelos Papas falando ex cathedra; igualmente infalível é tudo aquilo que é ensinado (como contido ou conexo com a Revelação) pelo magistério ordinário da Igreja docente, composta pelo Papa e pelos bispos a ele unidos:
Concílio do Vaticano, Dei Filius, 1870, Denzinger 1792:
“Deve-se crer com fé divina e católica tudo o que está contido na Palavra de Deus escrita ou transmitida e que a Igreja propõe a crer, por um juízo solene ou por seu magistério ordinário e universal, como divinamente revelado.”
(2) O que os teólogos concordam em ensinar que é de fé, ainda que nunca tenha sido definido, é infalível (e não “opinião”):
Papa Pio IX, Tuas Libenter, 1863, Denzinger 1683:
“Pois, ainda que se tratasse daquela submissão que se deve prestar mediante ato de fé divina, não haveria, porém, que limitá-la às matérias que foram definidas por decretos expressos dos Concílios ecumênicos ou dos Romanos Pontífices e desta Sé, mas haveria também que estender-se às matérias que se ensinam como divinamente reveladas pelo magistério ordinário da Igreja inteira espalhada pelo mundo e que, por isso, com universal e comum consentimento são consideradas pelos teólogos católicos como pertencentes à fé.”
(3) O que os teólogos concordam em ensinar como verdades e conclusões teológicas, ainda que não infalivelmente ensinadas nem definidas, é de adesão obrigatória tanto exterior quanto interior (de mente e vontade):
Papa Pio IX, Tuas Libenter, 1863, Denzinger 1684:
“Mas, como se trata daquela sujeição à qual estão obrigados em consciência todos os católicos que se dedicam às ciências especulativas, para que possam trazer com seus escritos novos proveitos para a Igreja, por essa razão, os homens desse mesmo congresso devem reconhecer que não basta aos sábios católicos aceitar e reverenciar os supracitados dogmas da Igreja, mas é também necessário a eles submeter-se às decisões que, pertencentes à doutrina, são emanadas das Congregações Pontifícias, bem como àqueles capítulos de doutrina que, pelo comum e constante sentir dos católicos, são considerados como verdades e conclusões teológicas, tão certas que as opiniões contrárias a esses capítulos de doutrina, ainda que não possam ser chamadas de heréticas, merecem, sem embargo, alguma censura teológica.”
(Para entender corretamente qual a autoridade dos teólogos e qual o método teológico católico, ler atentamente: Rev. Pe. Anthony CEKADA, O Batismo de Desejo e os Princípios Teológicos, 2000).
(4) Golpe de misericórdia. Condenação solene da tese jansenista de que a Igreja pode promulgar ou permitir uma lei universal (rito litúrgico, Código de Direito Canônico, etc.) que seja nociva:
Papa Pio VI, Auctorem Fidei (condenação do concílio de Pistoia), Denzinger 1578:
Uma proposição desse concílio “na medida em que, em razão dos termos gerais utilizados, ela inclui e submete ao exame prescrito mesmo a disciplina estabelecida e aprovada pela Igreja, como se a Igreja, que é regida pelo Espírito de Deus, pudesse constituir uma disciplina não somente inútil e mais onerosa do que a liberdade cristã pode tolerar, mas ainda por cima perigosa, nociva, conducente à superstição e ao materialismo” é condenada como “falsa, temerária, escandalosa, perniciosa, ofensiva a ouvidos pios, injuriosa à Igreja e ao Espírito de Deus que a conduz, no mínimo errônea”.
(Para mais citações do Magistério e explicações dos teólogos sobre essa matéria, cf. Rev. Pe. Hervé BELMONT, Infalibilidade das leis disciplinares gerais, 2011).
A.M.D.G.V.M.,
S.

Continuação:
Caro A., Salve Maria!
Respondo aos seus três itens e por fim ao seu pós-escrito:
1. (...).
2. Ao segundo ponto que você levanta, para deslindar a confusão subjacente a ele, começo observando uma coisa muito estranha a respeito da citação que você fez em seu primeiro comentário aqui; reproduzo-a agora precedida dos dois parágrafos que a contextualizavam e que você curiosamente omitiu (destaques meus):
Demonstramos amplamente aqui ser contra a Fé Católica asseverar que a Igreja pode ensinar erro ou promulgar leis más. Mostramos também que o Vaticano II e suas reformas deram-nos erros que vão contra a doutrina católica e leis más que são adversas à salvação das almas.
Logo, a Fé mesma obriga-nos a afirmar que os que ensinaram esses erros ou promulgaram essas leis más, não importa que aparência de autoridade possam ter, não possuem realmente a autoridade da Igreja Católica. Somente assim a indefectibilidade da Igreja Católica é preservada. Devemos, pois, como católicos que afirmamos que a Igreja é indefectível e infalível, rejeitar e repudiar as alegações de que Paulo VI e sucessores tenham sido verdadeiros papas.
Em compensação, deixamos para a autoridade da Igreja, quando ela voltar a funcionar de maneira normal, declarar com autoridade que esses supostos papas foram não-papas. Nós, como simples sacerdotes, não podemos, afinal de contas, fazer julgamentos autoritativos, quer legais ou doutrinais, que vinculem as consciências dos fiéis.”
(Pe. CEKADA, no estudo acima, sobre o qual estamos debatendo).
Você parece imaginar que o Rev. Pe. se contradiga aí? Nesse caso, isso só pode ser por você não ter entendido que, quando ele nota que somente a Igreja pode “declarar com autoridade…vincul[ando] as consciências” sobre esse assunto, o A. está apenas prevenindo o abuso que seria considerar que os não-sedevacantistas incorram em penas canônicas ou em cisma, única e exclusivamente, por não terem compreendido ainda que o sedevacantismo é a única solução plenamente compatível com o catolicismo para dar conta da crise atual.
Somos católicos, nota o Pe. Belmont, que
“não consideram sua própria convicção como critério de pertença à Igreja Católica: essa convicção está ancorada na luz da fé, é regra para eles próprios e para tudo o que entra na responsabilidade deles; mas ela não tem como, por si só, obrigar ao próximo. Noutras palavras, estes católicos não querem atribuir a si próprios uma autoridade outra que a de seus argumentos.”
(Rev. Pe. Hervé BELMONT, Carta de Navegação do blogue Quicumque, 2005).
Isso não significa em momento algum que esses argumentos não concluam – ou antes até: que a luz da fé exercida não desemboque irremediavelmente na constatação da atual vacância da Sé Apostólica –, ou que a conclusão careça de certeza, ou que as premissas das quais ela decorre não sejam igualmente obrigatórias (mais sobre isto na resposta à 3º obj., infra), mas tão-somente significa que essa certeza não pode ser imposta sem mais a quem não enxergue (ou não queira enxergar) sua necessidade, podendo ser apenas demonstrada a quem tenha ouvidos.
É diferente de quando a Igreja julga diretamente uma questão (por exemplo: o milenarismo mitigado), aí então os católicos não têm mais essa desculpa de não enxergar (ou não querer enxergar) os argumentos (certíssimos e não “opiniões” de teólogos) que demonstram ser essa uma doutrina errônea que (assim como o tradicionalismo sedeplenista) nega implicitamente a infalibilidade do Magistério Ordinário Universal. Roma locuta, causa finita: a mera difusão do lacunzismo incorre na violação da lei da Igreja (o decreto do Santo Ofício que impede sua difusão e que obriga as consciências).
Assim, a alguém que parecia tentar pintar o sedevacantismo atual como algo semelhante a um fato dogmático como que “às avessas”, o Sr. Daly escreveu o seguinte, a esse respeito:
“Tenho reservas principalmente acerca da imediatez da(s) dedução(ões) envolvida(s). Ao mesmo tempo que eu próprio, é claro, não tenho dúvida alguma de que a conclusão [i.e. o sedevacantismo] é certa e demonstrável, entendo que a Igreja sempre reconheceu que muitos dos fiéis não são bem instruídos e são bastante confusos [foggy-minded] quando se trata de argumentações, razão pela qual Ela não considera que seja uma rejeição da autoridade dela o fracasso em aceitar conclusões que não sejam imediatamente evidentes a partir de seus ensinamentos ou julgamentos.”
(John S. DALY, Carta de 6 de julho de 2004 ao bispo Sanborn, sobre o artigo deste “Opinionism, reproduzida por J. F. LANE; cf. também, deste último, um resumo da correspondência DALY-SANBORN, se bem que aparentemente com contribuições próprias a serem medidas cum grano salis).
Ainda esses dias, aliás, eu relia um renomado teólogo tomista e adversário do neomodernismo, o Padre LABOURDETTE, O.P., que, pouco depois de observar que “é assombroso que se tenha tão facilmente tendência a julgar incerto aquilo que não seja estritamente definido”, e depois de recordar que “Não basta que uma asserção não tenha sido definida como ‘de fé divina e católica’ para que seja lícito negá-la”, deplora ainda o seguinte:
Pode-se lamentar as flutuações de vocabulário que fazem com que as palavras ‘opinião’ e ‘certeza’ não tenham exatamente o mesmo alcance quando são consideradas do ponto de vista da autoridade, que é o [ponto de vista] da teologia positiva, ou do ponto de vista da adesão em maior ou menor medida obrigatória a argumentos de teologia especulativa” (InRevue Thomiste, 1954, p. 668).
Posso lhe indicar uma brevíssima leitura sobre como tudo isso se aplica à situação atual? Isto aqui não tem nem uma página (o Rev. Pe. D. parece-me ter notado à minha ..., há muito tempo, ter objeções a este artiguinho, mas não imagino quais possam ser elas e, como não cumpriram a promessa de me enviar resposta do Pe. Calderón, entre outras razões, nem me interesso realmente em conhecê-las): J.S. DALY, Questão de Fé ou Questão de Opinião? – Apontamentos… 2001.
3. Chegamos, enfim, ao terceiro ponto, que mostra uma segunda confusão sua: você não entendeu até agora o argumento sedevacantista. Aliás, diga-se de passagem, ilustração perfeita da “foggy-mindedness” acima referida, pela qual na ausência de juízo direto da Igreja não se pode concluir que os recalcitrantes sejam hereges ou cismáticos por não aderir a uma demonstração cerrada de que a posição deles implica em teses heréticas e cismáticas.
O silogismo que demonstra o sedevacantismo (demonstração “a posteriori” ou “quia”) pode ser formulado assim:
MAIOR: “a Igreja é infalível em seu ensinamento e em tudo aquilo que manifesta a sua fé, incluindo aí sua lei, sua liturgia, sua pregação, sua tolerância…
MENOR: “a Igreja do Vaticano II apresenta-nos, por intermédio de cada uma dessas maneiras de se exprimir, todo um corpo doutrinário que é impossível de reconciliar com o que a Igreja Católica sempre ensinou até então, pelas mesmas maneiras.
ERGO: “essa nov’Igreja, dizia, não é a Igreja Católica, e seus chefes não desfrutam da proteção própria aos Papas, porque eles não são Papas.
(Cits. tiradas de: John S. Daly, O sentido de herege “manifesto” em Bellamino, 2005).
Tanto a premissa Maior quanto a premissa Menor se fundam em ensinamentos obrigatórios do Sagrado Magistério e da Sacra Teologia, e a conclusão decorre delas por necessidade lógica.
É somente num segundo momento que entra a questão disputada dita “do papa herege como doutor privado” (note bem: “como doutor privado”, pois a questão “do papa herege como docente autêntico na Igreja” é uma aberração “tradicionalista” que nenhum teólogo aprovado jamais aventou).
Aqui, sim, talvez houvesse que citar a opinião minoritária de alguns da O.P. de que os hereges ocultos se excluem da Igreja (opinião que parece especialmente absurda após a Enc. Mystici Corporis de Pio XII, cujo redator principal, aliás, sabe-se que foi o doutíssimo eclesiólogo “bellarminiano” Pe. Sebastien Tromp, S.J.) e a opinião igualmente improvável e minoritária de que, em contrapartida, o “papa herege como doutor privado”, embora excluído da Igreja, não perderia o Pontificado (opinião bem pouco fiel a Sto. Tomás, aliás, e que alguns não hesitam em atribuir à negligência no estudo do Direito Canônico que caracteriza tanta teologia dos últimos séculos, mesmo entre autores renomados, e que está tão distante da reverência do Doutor Angélico pelos “Santos Cânones”, como ele os chamava; e lembro aqui, para contrastar, que o principal embasador teológico do Código de São Pio X promulgado pelo Papa Bento XV, o então Pe. Billot S.J., afirmava-se disposto a morrer pela mais mínima vírgula do Código de Direito Canônico: não por acaso foi ele proposto pelo Papa Pio XII como modelo para todos os teólogos!).
É somente num segundo momento, então, que entra essa questão “do papa herege”, assim como no estudo acima do Pe. Cekada ela só entrou para mostrar a não-impossibilidade da solução sedevacantista, em contraposição à impossibilidade da solução sedeplenista, que viola doutrinas não disputáveis. (No mais, acrescenta John Daly após o silogismo acima, é esta [o não-papado de P6 e sucessão, por heresia] “a solução da qual Dom Lefebvre não fazia senão aproximar-se para dela se afastar, e afastar-se para dela se aproximar.” loc. cit.)
O Sr. Daly distingue bem os dois argumentos e assinala a suficiência do primeiro com um exemplo luminoso:
“Certamente que, não sendo Ratzinger Papa, conforme o argumento número 1, pode-se razoavelmente perguntar o que falta a ele dentre as condições essenciais ao Papado, mas, mesmo sem saber disso, sabemos com certeza que ele não é o chefe da verdadeira Igreja.
O N.O.M. é um efeito que depende de causa adequada: essa causa só pode ser que os ‘papas’ que no-lo dão não são legítimos. A ilegitimidade desses papas é, por sua vez, um efeito que depende de causa adequada. Creio que essa causa é o fato de não professarem a fé católica, mas é questão secundária.
Conheci um homem que montou uma queijaria seguramente impermeável às moscas, onde ele fazia queijos. Um dia, havia larvas nos queijos. Conclusão rigorosa: uma mosca havia entrado, apesar de tudo. Mas ele estava tão seguro da impermeabilidade de sua queijaria, que chegou ao ponto de acreditar na geração espontânea das moscas. Não estou exagerando. Ele queria que lhe mostrassem por onde a mosca teria podido entrar. Eu tinha as minhas ideias, mas o absurdo era supor necessário encontrar o furo para dever crer no que já estava provado pela presença das larvas.
Aquilo que já está provado a posteriori é certo. Encontrar sua causa é muitas vezes desejável, mas nunca é condição para poder aceitar a consequência.”
(John DALY, Uma mosca na queijaria, 2005).
Concluo, enfim, com o Rev. Pe. Belmont:
“Dito de outro modo, cumpre afirmar tudo aquilo que a fé católica nos compele a afirmar [ex: a infalibilidade das leis da Igreja (F.C.)], negar tudo aquilo que ela nos compele a negar [ex: o Papado a Paulo VI e sucessores, promulgadores e mantenedores de leis e doutrinas nocivas (F.C.)]… e deter-se aí. Recorrer a elementos que sejam de uma certeza de ordem inferior — fatos não certificados, raciocínios que não alcançam essa luz teologal, teorias teológicas (como as do Papa herege) que a Igreja não integrou à sua própria doutrina etc. — pode ajudar a compreender, pode confortar na certeza da legitimidade da conclusão, mas não permite concluir categoricamente. Se essa intenção teologal exclui os juízos sobre pessoas e as conclusões arriscadas, ela permite alcançar uma certeza que se remete à fé católica. O que ‘perdemos’ em extensão, ganhamos em compreensão.”
(Rev. Pe. Hervé BELMONT, Sou sedevacantista?).

Ficou claro, A.?
Porque estou pressupondo benevolamente que tenha sido a essa questão do “papa herege” que você se referia, ao falar em “os teólogos citados pelos sacerdotes supraindicados não são a maioria dos teólogos. Proposta: por que você não pesquisa e acrescenta a posição dos que são contrários? Assim, poderemos fazer uma análise mais coerente e não enviesada”.
A., meu caro, não existem esses teólogos escolásticos pré-conciliares “contrários” à infalibilidade das leis eclesiásticas universais: essa posição tradicionalista é condenada pela Igreja (não leu a citação da Auctorem Fidei que lhe fiz ontem?)
Em tempo: aquele texto lixo que você me enviou recentemente para defender os tribunais nulos da FSPX, negava – motivando meu abandono da discussão por desânimo, até porque ela começara justamente por você ter observado [e eu ter concordado] que o finado Prof. O. F., apesar de tudo, acertara em denunciar o desvio de ditos sacerdotes –, aquele texto lixo, dizia, tem um erro que até mesmo seu próprio Autor já abandonou, embora para cair noutros igualmente ruins ou piores: a negação da infalibilidade do Código de Direito Canônico.
Caso você queira aprender com teólogos aprovados pela Igreja e não com padres piedosos, mas (de)formados em apostilas improvisadas de seminários não-canônicos de uniões pias dissolvidas, eis um texto clássico para sua formação: L’AMI DU CLERGÉ (1919), Infalibilidade do Código de Direito Canônico.
Por amor à Igreja, não deixe de voltar para esclarecer esse ponto, A., senão fica parecendo que você é um desses católicos malsãos que negam obstinadamente a infalibilidade da Igreja em promulgar leis eclesiásticas universais como esta canônica ou a litúrgica.
Em JMJ,
S.