sexta-feira, 29 de julho de 2016

232º Nota - O Homem do Santo Sudário



1. ASPECTO FÍSICO

a) Formosura e majestade do rosto

Antes de mais nada, a primeira coisa que chama a atenção e parece irresistível é a sua formosura, a impressionante nobreza, a serena majestade, a simples e agradável grandeza desse rosto, ao mesmo tempo que seu realismo trágico. Os malfeitores jamais apresentam traços semelhantes. O rosto do homem reflete sua alma.

“Rosto de serena e indizível beleza e de uma majestade realmente sobre-humana”, conforme o escritor Daniel Rops. “Rosto que inspira amor”, diz o cardeal Michele Pellegrino. “A imagem é de uma veracidade que espanta... Mais do que uma imagem, é uma presença”, acrescenta o conhecido poeta Paul Claudel.

O professor Tamburelli, depois de haver eliminado com seu microcomputador os elementos estranhos e acessórios do rosto... “Não podemos deixar de destacar a beleza da imagem obtida... superior a qualquer obra de arte! Esperamos que esta imagem possa inspirar as obras artísticas do futuro” (Actas II Congr. Int., p. 183).

Os mesmos resultados haviam sido obtidos pelos investigadores da NASA. “Descobrimos uma imagem eletrônica de extraordinária beleza do corpo (do homem do Sudário)” (E. Jumper e J. Jackson, La Gazzetta..., p. 38, (...)

b) Antropometria

Em primeiro lugar, vejamos sua estatura. As medidas propostas são diversas. Em geral, oscilam entre 1,78 e 1,83m (...)

(...) Barbet concorda: “O lençol nos mostra um homem de 1,80m, com uma esplêndida anatomia” (La Pass., p. 188) (...) 

Vejamos as conclusões sumamente interessantes a que chegou (Dr.) Judica, em seu profundo estudo:

“Todas as referências se orientam no sentido ‘normotípico’, com massa física superior à média. Portanto (o homem sindônico) pode ser classificado entre os ‘normótipos’... Portanto, num exame superficial de todos os dados anteriormente expostos, vemos aparecer diante de nós um homem antropometricamente perfeito, extraordinário em toda a sua imponente formosura: uma beleza que transcende das suaves linhas do rosto, apesar de essas linhas estarem alteradas pelas numerosas e profundas lesões com que está marcado. Ao lado dessa beleza fisionômica, delineia-se também uma beleza de perfeição corporal superior em mais de 8, na massa somática, à proporção do homem médio. De fato, o que vemos diante de nós é um homem de estatura alta, mesocéfalo e com crânio retilíneo, levemente voltado para baixo: com grandes pomos faciais ligeiramente salientes; linhas do tronco e das extremidades bastante harmoniosas; proporcionado de maneira escultural, tanto no comprimento como na largura: em suma, um normótipo (L’Uomo della S. ..., p, 58), cujos principais atributos são a força e a virilidade e uma vida vegetativa e relacionada com um desenvolvimento harmônico superior à média.”

c) Proporção somática

Os tratadistas de arte estabelecem módulos ou medidas fixas que, multiplicadas por um número exato de vezes, dão a medida ideal das várias partes do corpo. (...)

Hynek diz:  “Do ponto de vista artístico, não se pode deixar de dizer que as dimensões do corpo da Síndone ostentam exatamente a regra de ouro, ou seja, o cânon de beleza clássica, segundo o qual a medida correspondente à estatura deve corresponder à altura máxima da cabeça multiplicada por oito” (El aspecto físico..., p. 98). (...)

O Dr. Judica continua: “A um sujeito de tais características costumam se associar uma pele morena e cabelos escuros” (L’Uomo..., p.58).

(Manuel Solé, S.J., O SUDÁRIO DO SENHOR, Sua autenticidade e transcendência, 1983)

quarta-feira, 27 de julho de 2016

231ª Nota - O Falso Católico


"Todo aquele que nega que Jesus é o Cristo se converte em anticristo. Busquemos, pois, quem são os que negam, PORÉM, não atendendo às palavras, senão observando os atos, porque, se nos fiamos das palavras, não haverá nenhum que não confesse que Jesus é o Cristo. Descanse, portanto, a língua e interroguemos a vida (Tim. 1, 16) (...) O maior mentiroso é o que confessa com seus lábios que Jesus é o Cristo e o nega na prática, porque diz uma coisa e faz outra diferente."

(Santo Agostinho, In Epist. loan, ad Parthos, c.2, 18-27, tr.3)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

230ª Nota - Democracia?


“A democracia é um sistema que visa aniquilar a Cristandade, a cultura ocidental, e, em suma, a cultura da humanidade. É um plano de uma oligarquia que pretende fazer um governo mundial. Para isso, necessita fazer com que os povos não possam se defender. Para que não se defendam, há que deixá-los sem identidade nacional, sem identidade étnica e racial, sem raízes, desestruturar a família e a nação.”
“La democracia es un sistema para el aniquilamiento de la Cristiandad, de la cultura occidental, y en general de la cultura de la humanidad. Es un plan de una oligarquía que lo que pretende es un gobierno mundial. Para ello necesitan que los pueblos no se puedan defender. Para que no se defiendan hay que dejarles sin identidad nacional, sin identidad étnica racial, sin raíces, desestructurar a la familia y desestructurarles como nación.”
(Pedro Varella, escritor e historiador revisionista)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

228ª Nota - O homem mau


Não penseis que os maus estão neste mundo sem motivo e que Deus não pode tirar deles bem. Todo homem mau vive, ou para se corrigir, ou para provar o justo.
(Santo Agostinho, Tratado sobre os Salmos)

segunda-feira, 18 de julho de 2016

227ª Nota - Karl Marx gritando maldições colossais



A PERSONALIDADE

Para descobrir isso, temos de examinar muito mais de perto sua personalidade.

É verdade - e em certos aspectos uma triste verdade - que as grandes obras do intelecto não provêm da atividade abstrata do cérebro e da imaginação; estão profundamente enraizadas na personalidade.

Marx é um exemplo notável desse princípio.

Já analisamos a apresentação de sua filosofia como sendo o amálgama de sua visão poética, de seu talento jornalístico e de seu academicismo.

Mas também pode ser demonstrado que o conteúdo real dessa filosofia se liga a quatro aspectos de seu caráter: o gosto pela violência, o desejo de poder, a inabilidade de lidar com dinheiro, a tendência de explorar os que se encontravam a sua volta.

A sugestão de violência, sempre presente no marxismo e demonstrada com frequência pelo próprio comportamento dos regimes marxistas, representa uma projeção do temperamento de seu criador.

Marx passou sua vida num ambiente de extrema violência verbal, onde periodicamente ocorriam brigas e, às vezes, ataques físicos. As brigas na família de Marx foram a primeira coisa que sua futura esposa, Jenny von Westphalen, percebeu a seu respeito.

Na Universidade de Bonn, a polícia o prendeu por possuir uma pistola, e ele por muito pouco não foi suspenso; nos arquivos da universidade, aparece por ter-se envolvido em conflitos estudantis, disputado um duelo e se cortado no olho esquerdo.

Suas brigas com a família entristeceram os últimos anos de vida do pai e acarretaram, por fim, uma ruptura definitiva com sua mãe.

Numa das cartas mais antigas de Jenny que foram conservadas, se lê: "Por favor, não escreva com tanto rancor e irritação".

E fica patente que muitas de suas incessantes desavenças se deviam às expressões violentas que costumava usar quando escrevia ou, mais ainda, quando falava, e nesse último caso a situação era, no mais das vezes, agravada pelo álcool.

Marx não era um alcoólatra, embora bebesse com regularidade, geralmente em grande quantidade, e às vezes se envolvesse em perigosas bebedeiras.

Em parte, seu problema era que, desde os 25 anos, Marx sempre foi um exilado vivendo quase exclusivamente em comunidades de expatriados, em sua maioria alemães, em cidades estrangeiras.

Raramente procurava fazer amizades fora delas e nunca tentava se integrar.

Além disso, os expatriados com que sempre se relacionava eram, eles próprios, um pequeno grupo exclusivamente em política revolucionária.

Esse fato, por si, ajuda a entender a visão estreita que Marx tinha da vida, e seria difícil imaginar um cenário social mais propenso a estimular sua natureza belicosa, pois esses círculos eram famosos por suas disputas violentas.

Segundo Jenny, as desavenças só não foram constantes em Bruxelas.

Em Paris, seus encontros na Rue des Molins para tratar de colaborações em jornais tinham de se dar atrás de janelas fechadas de modo que os transeuntes não pudessem ouvir a gritaria interminável.

Entretanto, essas brigas não foram sem propósito.

Marx brigava com todas as pessoas com as quais se relacionava - de Bruno Bauer em diante, a menos que conseguisse dominá-las completamente.

Em conseqüência, existem várias descrições, em sua maior parte hostis, do furioso Marx em ação.

O irmão de Bauer chegou a escrever um poema sobre ele.

"O velho camarada de Trier, em fúria vociferando,Seu punho maligno está cerrado, ele grita interminavelmente, Como se dez mil demônios o dominassem".Payne, pag. 31.

[Edgar Bauer describes Marx as: a swarthy chap of Trier, a marked monstrosit He neither hops nor skips, but moves in leaps and bounds Raving aloud… He shakes his wicked fist, raves with a frantic air. As if ten thousand devils had him by the hair.]

[Nota: Texto semelhante de Engels: A swarthy chap of Trier, a marked monstrosity. He neither hops nor skips, but moves in leaps and bounds, Raving aloud. As if to seize and then pull down. To Earth the spacious tent of Heaven up on high]

Fonte: 
http://www.marxists.org/archive/marx/works/cw/volume02/preface.htm

***

Marx era baixo, largo, tinha cabelo e barba pretos, uma pele amarelada (seus filhos o chamavam de "Mouro") e usava um monóculo no estilo prussiano.

Pavel Annenkov, que o viu no "julgamento" de Weitling, descreveu sua "espessa e negra cabeleira, suas mãos peludas e a sobrecasaca abotoada indevidamente"; era mal-educado, "presunçoso e ligeiramente sobranceiro (arrogante, que se acha superior)"; sua "voz aguda e metálica se adequava bem às sentenças radicais que ele proferia continuamente sobre os homens e as coisas"; tudo o que dizia tinha um "tom áspero".

Sua obra favorita de Shakespeare era Tróilo e Créssida, da qual gostava da troca de insultos entre Ajax e Tersites.

Adorava citá-la, e a vítima de um trecho ("Tu, senhor de espírito apalermado: não possuis mais miolos do que eu em meu cotovelo").

Foi seu companheiro revolucionário Karl Heinzen, que revidou com um retrato memorável do pequeno homem raivoso.

Achava Marx "intoleravelmente desprezível", o resultado do "cruzamento entre um gato e um macaco", com "cabelos desgrenhados pretos como carvão e com a tez suja e amarelada" e 
"impossível dizer se suas roupas e sua pele eram da cor de lama por natureza ou se estavam apenas sujas."

Tinha olhos pequenos, ameaçadores e maliciosos, "emitindo faíscas de um fogo repulsivo"; tinha o hábito de dizer: "Eu vou aniquilar você".

[Nota: O relato de Geinzen foi publicado em Boston em 1864; citado em Payne, p. 155.]

De fato, Marx gastava grande parte de seu tempo compilando dossiês minuciosos sobre seus rivais e inimigos políticos, os quais ele não hesitava em apresentar à polícia se achasse que lhe seria útil.

As grandes brigas públicas, como por exemplo no encontro da Internacional em Hague, em 1872, prenunciava os réglements des comptes [acertos de conta] da Rússia soviética: não há nada no período de Stalin que não estivesse prefigurado, de uma grande distância no tempo, pelo comportamento de Marx.

Às vezes, havia de fato sangue derramado. Marx foi tão ofensivo durante sua briga com August von Willich, em 1850, que este desafiou-o para um duelo.

Marx, apesar de ter sido duelista no passado, disse que "não se envolveria nas brincadeiras dos oficiais prussianos", porém não fez nenhuma tentativa de evitar que seu jovem assistente, Konrad Schramm, tomasse o seu lugar, embora Schramm nunca tivesse usado uma pistola na vida e Willich fosse um atirador excelente.

Schramm foi ferido.

O padrinho de Willich nessa ocasião foi um aliado particularmente perigoso de Marx, Gustav Techow, merecidamente odiado por Jenny, o qual matou pelo menos um companheiro revolucionário e acabou sendo enforcado por assassinar um oficial da polícia.

O próprio Marx não era contra a violência ou mesmo o terrorismo quando se adequavam a sua tática.

Dirigindo-se ao governo prussiano em 1849, fez a seguinte ameaça: "Nós somos impiedosos e não queremos nenhum centavo de vocês. Quando chegar a nossa vez, não vamos reprimir nosso terrorismo". 
[We are ruthless and ask no quarter from you. When our turn comes we shall not disguise our terrorism.]

No ano seguinte, o "Plano de ação" que ele tinha distribuído especificamente na Alemanha estimulava a violência do populacho:"Longe de sermos contrários aos chamados excessos, aqueles exemplos de vingança popular contra construções particulares ou públicas que têm um passado detestável, temos de não apenas perdoá-los, como também cooperar neles".

[Far from opposing the so-called excesses, those examples of popular vengeance against hated individuals or public buildings which have acquired hateful memories, we must not only condone these examples but lend them a helping hand.]

Nota: Marx-Engels Gesamt-Ausgabe, vol. vi, pp. 503-5
http://www.bbaw.de/bbaw/Forschung/Forschungsprojekte/mega/en/Startseite 

(Paul Johnson, 1988)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

226ª Nota - Arte na Idade Média



Foi na Idade Média que a Arte cumpriu mais plenamente sua função de transfigurar o mundo para dar ao homem o desejo do céu com o amor do verdadeiro bem. Os estilos românico e gótico marcam o ápice da arte ocidental. Embora não se tivesse ainda o conhecimento de todas as leis da beleza - por exemplo, não se conhecia ainda a perspectiva - a arte medieval, dentro de seus limites, buscou, mais que nenhuma outra, o bem, a verdade, a beleza, reflexos de Deus no mundo. E por mais que a Idade média seja denegrida nos manuais escolares, nos slogans da imprensa, como a Idade das Trevas, é a sua luz que atrai continuamente torrentes de turistas que, embasbacados, contemplam o resplendor de seus vitrais, a poesia de seus castelos, a majestade de suas catedrais. O mundo continua a ter saudades da tão caluniada Idade Média, a "doce primavera da fé".

O estilo gótico

Em toda a história da arte, não se pode encontrar uma arte mais católica, mais religiosamente elevada, do que a arte medieval.

O estilo gótico representa o apogeu da arte. Até no século XX - século do feio e do monstruoso - apesar da propaganda a favor da Arte Moderna e apesar das calúnias contra a "Idade das Trevas", multidões vão à Europa extasiar-se diante da fachada de Notre Dame de Paris, admirar as torres que obrigam a olhar para o alto de Chartres, deslumbrar-se com a luz cantando nos vitrais das rosáceas.

Por que o gótico traz tal satisfação à alma humana?

1. Religiosidade do gótico
Em primeiro lugar porque nenhum estilo é tão religioso quanto ele. Gótico e religião são termos inseparáveis. É da essência desse estilo falar de Deus e do céu. Mesmo nos edifícios e obras profanas, o gótico põe algo de religioso que lembra Deus.

Se no âmago da beleza está o bonum, em nenhum outro estilo o bonum aparece em tão alto grau nem tão claramente. Toda beleza é uma teofania, mas a catedral gótica é a expressão artística da Teologia católica por excelência. Foi bem definido o gótico por Erwin Pafnosky, quando ele disse que o estilo gótico é "a filosofia escolástica na pedra".

2. Elevação moral
O estilo gótico, como nenhum outro, respeitou as leis da moral e procurou incentivar os homens à virtude.

No gótico, encontra-se por toda parte pudor, recato, pureza. Não se estadeia o nu, não se salientam as formas físicas. As roupagens são descentes, os gestos e atitudes são recatados. As linhas arquitetônicas são puras. A catedral é casta.

O gótico, além disso, é temperante, e mesmo, por vezes, austero. Nele não há excessos - não falamos, evidentemente, do flamejante, que foi a decadência do gótico e o começo do fim da verdadeira arte católica - nele não há exageros. Tudo é equilibrado. Nas abadias há austeridade; nos pátios dos castelos, alegria moderada. Em todas as obras - religiosas ou civis - nas catedrais, nas abadias, nos castelos e nas casas, há seriedade.

O gótico incentiva ao bem e à verdade porque tudo nele incentiva à luta. Nele há mais do que simples força, há combatividade. Torres, fossos, ameias, barbacãs, muralhas, tudo no castelo fala da existência do mal que é preciso combater. Na catedral, as esculturas lembram continuamente o juízo, o inferno e o demônio tentador. Diabos arrastam para o abismo infernal os reis e até os príncipes da Igreja, e mesmo os Papas, para lembrar que todos, se não combaterem, perder-se-ão. Os torreões dos castelos falam de guerra, e as torres das catedrais lembram que a Igreja é militante. E a prudência no gótico espreita pelas seteiras e vigia pelos caminhos de ronda.

Todas as demais virtudes podem ser encontradas simbolicamente no gótico: a justiça, a caridade, a esperança e principalmente a fé, porque tudo no gótico fala de Deus e conduz a Ele.

3. Lógica
Já foi dito que o gótico é uma escolástica de pedra. Assim como no silogismo escolástico nada pode ser tirado e nada pode ser acrescentado, assim também, no silogismo arquitetônico gótico, tudo é necessário e nada é supérfluo. Pilastras, arcos-botantes, colunas e ogivas se interligam, uns elementos sustentando os outros para, no alto, exaltarem a cruz.
A fachada ou a planta de uma catedral podem ser comparadas, quanto à lógica e à clareza, com uma questão escolástica com todos os seus argumentos, os "sed contra", as soluções e as respostas aos argumentos. E a catedral é, então, uma "Suma" em pedra, tal a sua ordenação lógica.

Quanto às regras estéticas, a Idade Média não teve, desde o início, o conhecimento de todas. Mas, à medida que as conhecia, procurava escrupulosamente respeitá-las porque eram a vontade de Deus regulando a arte.

4. O Belo no gótico
Da bondade e da verdade do estilo gótico é que nascia o seu pulchrum. Belo sereno e cheio de paz, resultante da harmonia de todos os valores, da temperança com que os bens eram amados, da força consciente de si mesma na busca da justiça.

"Pureté, sérénité, majesté...", disse alguém a respeito da fachada de Notre Dame de Paris. Pureza nas formas materiais, serenidade na alma, majestade no conjunto, tais são alguns dos valores do gótico que o tornam o mais católico dos estilos de arte já produzidos, e, por isso mesmo, o que mais fala a Deus.

(Excerto de “As três Revoluções na Arte”, do prof. dr. Orlando Fedeli)

quarta-feira, 13 de julho de 2016

225ª Nota - Gostos e Opiniões



A discussão era fútil, mas dentro dela creio ter encontrado o nó de um grave problema. Se o leitor quiser me acompanhar com atenção, prometo demonstrar que aquela discussão continha em germe um elemento que tem causado no mundo suicídios, apostasias, revoluções e incêndio de cidades inteiras.

A cena que contei, em si mesma, não espanta, porque cada um de nós já presenciou, centenas de vezes, discussões que atingem paroxismos por causa de objetos insignificantes. O que surpreende é justamente a enorme desproporção entre o objeto e a veemência do litígio. Dir-se-ia que nessas ocasiões uma estranha atmosfera  se interpõe entre as pessoas, produzindo fantásticas refrações, e daí resulta que um par de chinelos ou um simples endereço avultam como se fossem montanhas enormes erguidas no meio dum caminho.

Achei- me pensando na cena que acabara de assistir e me perguntando qual seria o verdadeiro motivo que levara Afonso a defender, com a galhardia dum paladino, a posição duma loja de sapatos. É fácil demonstrar que a loja não pesava. Se no dia seguinte o jornal anunciasse o seu incêndio, estou certo que Afonso não chegaria em casa torcendo as mãos de desespero e chorando convulsivamente. Dona Antônia talvez dissesse: ­– Que pena.  Logo a casa que você tinha acertado a fôrma.

O objeto da discussão, entretanto, tinha sofrido uma alteração mais radical do que a simples mudança de quarteirão que tanto excitara meu amigo. A loja, portanto, não pesava; o objeto não tinha proporção com o entusiasmo de Afonso. Procuremos então o motivo do fenômeno no próprio sujeito, isto é, dentro do meu amigo Afonso. Estaria em jogo o prestígio de individuo bem informado? Em parte, talvez.

Há sempre satisfação em estar sempre informado, a par das coisas, inserido nos fatos, como também uma alegria ainda maior em ser o próprio portador da informação, sobretudo quando é nova. No caso imaginado, de incêndio, Afonso viria para casa mais satisfeito do que nos dias comuns, porque estaria trazendo uma novidade; sentir-se-ia o depositário do novo dentro da terrível e acabrunhante sonectude do mundo. Uma nova tem sempre uma qualquer coisa de boa nova, ainda que seja incêndio ou morte.

Lembro-me de um parente meu nos tempos da grande epidemia de gripe, que chegava em casa excitado e, logo que assomava à porta, deixava cair no meio do silêncio o nome de algum amigo arrebatado pela gripe. Não digo que ele tivesse maus sentimentos; tenho, ao contrário, abundantes recordações de sua bondade; mas creio ter surpreendido no brilho do seu olhar no dia em que a epidemia lhe abateu duma vez uns sete conhecidos.

Gostamos de carregar novidades e por isso é compreensível que tenhamos satisfação em colher e guardar informações. Mas, no caso da discussão sobre a loja de sapatos, essas considerações não se aplicam se não parcialmente. Não havia novidade, e como objeto de conhecimento, era magra coisa, a loja, para alimentar vaidades, mesmo levando em conta que há vaidade para tudo. Não creio por tanto que Afonso tenha defendido uma erudição topográfica, uma espécie de prestígio cadastral. Nunca ouvi falar de homem que se celebrizasse e merecesse o bronze por ter conhecido no mínimo detalhe a rua da Carioca. Não; decididamente não se tratava da importância própria do objeto nem do prestígio de ordem intelectual, que sempre guarda alguma proporção com o objeto.

Mas se a razão do fenômeno não está no objeto, só pode estar dentro do sujeito: procuremos melhor. Analisemos; vejamos em que ponto do seu interior o sujeito sofreria se a loja estivesse localizada em outro quarteirão. Seria na memória? Também não o creio. Mais de uma vez ouvi Afonso aludir à sua falta de memória com ar satisfeito. Penso mesmo que exista um tipo de vaidade para a falta de memória, pois os casos de esquecimento são geralmente contados entre sorrisos divertidos.

Então, não sendo o objeto, e também dentro do sujeito não sendo conhecimento ou memória, qual seria o ponto em jogo, a parte de Afonso tão vivamente empenhada na discussão?

Ora, creio ter achado a solução: Afonso defendia uma opinião e o ponto nevrálgico de sua pessoa era a vontade.

A opinião é uma atitude que o sujeito toma diante do objeto sem que o objeto importe. Não se mede pelo objeto, não tem proporção com ele. Precisa do objeto para sair do sujeito e voltar ao sujeito. Ter razão importa sem que o objeto importe. Tanto faz um quadro de Portinari, a existência de Deus ou o horário dos bondes de Catumbi. A cólera provocada pela religião ou pela arte moderna é sem dúvida mais forte e mais duradoura do que aquela que nascera a propósito de uma loja de sapatos, mas isso não prova o contrário do que eu disse. Não há nesses casos maior proporção objetiva, e sim um grau maior de irritação dentro do sujeito provocado pela insistência do fenômeno. É fácil imaginar como Afonso andaria nervoso, e cada dia mais exaltado, se não pudesse verificar  sua asserção na lista telefônica, e se encontrasse a cada instante alusões, livros escritos, salões de exposição, campanário de catedrais, tudo organizado e construído a partir da falsa situação de sua sapataria!

Podemos então localizar a ponta da raiz, o fibrilo nervoso onde mora o princípio de uma opinião. Eliminadas as outras partes de nosso interior, sobra aquela que é mais irritável, mais ferida, aquela que vive a esbarrar na limitação incômoda dos objetos: a vontade.

 A opinião é segregada pela vontade; não vem do conhecimento mas do apetite. O mecanismo da opinião pode ser descrito como interposição da vontade entre a inteligência e o objeto. A justa proporção com o objeto fica prejudicada, só podendo existir quando a inteligência está em livre confronto com o objeto, isto é, na contemplação.

 Gostaria de tornar bem clara a imensa gravidade desse problema e a importância vital do restabelecimento, na estrutura de nossa pessoa, desse respeito pelo objeto, dessa abertura para fora pela qual tanto a inteligência quanto a vontade, a boa vontade, aspiram à suma objetividade. O grande desvio do pensamento moderno tem origem nessa inversão interior, pela qual a vontade se arroga um direito de conquista onde somente à inteligência cabe o primado. Todos nós, mais ou menos, estamos impregnados de idealismo filosóficos até a medula dos ossos, estamos convencidos que nossa dignidade mais alta reside nesse subjetivismo obstinado que tenta reduzir todas as coisas do céu e da terra a meia dúzia de opiniões. Muita gente pensa que isso é grandeza e marca de caráter e que a personalidade humana se define por esse fechamento diante do objeto e se engrandece por essa deformação interior. Diante dos objetos mais simples o homem liberal, que agasalha suas opiniões, que desconfia de tudo que não seja o morno recôncavo de sua interioridade, cai em guarda numa posição crispada; a vontade mete-se de permeio entre a porta dos sentidos e a inteligência, e como o seu caminho é mais curto, ou porque seja ela mais ágil, sua sugestão chega antes do conceito e gera o preconceito. A inteligência perde a liberdade e a vontade então convence o sujeito que ele é um livre-pensador.

 É nessa questão nevrálgica da liberdade que a vontade mais se excita, e, no diálogo interior, clama que lhe pertence exclusivamente a decisão nessa matéria. Como na vida exterior vive sendo ofendida, esbarrando, chocando-se, atritando-se, a vontade procura se desforrar e volta-se para dentro. Volta-se contra o próprio sujeito, enrola-se no cerne nobre da pessoa e morde a inteligência. A liberdade psicológica e voluntariosa, nascida no conflito com as objetividades, substitui a liberdade ontológica que tem raiz na adequação entre a inteligência e o ser. O primado da inteligência é usurpado, e então, em vez do reto juízo, nasce a opinião.

 Já ouvi dizer, inúmeras vezes, que gosto não se discute. Ultimamente disseram-me essa frase, que bem figuraria entre as proclamações do direito do homem, a propósito da obra de Machado de Assis e da pintura de Picasso. Estou pronto a concordar que gosto não se discute quando se trata de pratos. Custa-me um pouco, mas reconheço a perfeita legitimidade do gosto pela beterraba. No que concerne à pintura de Picasso ou aos livros de Machado, compreende-se ainda uma certa relatividade na simpatia temperamental, um gosto, mas não posso concordar que um juízo sobre tais coisas se reduza a esse elemento da ordem do sensível. Seria a última concessão da inteligência: a submissão aos sentidos.

 Diante de um quadro de Picasso, uma pessoa afetada desse liberalismo subjetivo, convencido da alta dignidade da livre-opinião, não hesita em formular uma condenação peremptória ainda que o difícil problema da arte não tenha tomado dez minutos de reflexão em toda sua vida. Antes da reflexão, do estudo, do esforço de procurar, antes de qualquer coisa está o direito, estranhamente glorificado, da opinião.

A arte moderna é presa fácil da má vontade; quase se pode dizer que é um desafio à objetividade. Tem qualquer coisa de escondido, de velado; não se entrega aos sentidos com a facilidade da arte clássica; tem qualquer coisa de crucificado. Pede humildade, exige uma confiança no absoluto. Aos sentidos é fácil recusar o feio de Rouault e Picasso e logo a má vontade pega nesse julgamento dos sentidos, nesse pseudo-realismo e com ele tece uma intriga dentro da inteligência. E ainda mais, fica a inteligência convencida que está exercendo sua mais nobre atividade porque está funcionando na engrenagem nacionalista com o critério do sensível.

Arrastaria o leitor por fascinantes caminhos se largasse aqui a questão das opiniões para explorar o problema da arte; mas cada coisa tem seu tempo e agora tenho em vista perseguir as conseqüências dessa atitude especial que agride as objetividades.

Na verdade, quem se pronuncia sobre um quadro de Picasso ou sobre um romance de Machado, falando alto numa roda, achando por si mesmo que pode falar, que tem direito, que deve esse legítimo exercício à dignidade de sua cidadania, é um inimigo pessoal do Absoluto. Para tal indivíduo, as coisas não são, valem. Não tem um absoluto, medem-se. Falam alto numa roda, porque não lhes ocorre que exista uma verdade objetiva para cada coisa, mas apenas valores que são conferidos pelos sujeitos.

O Universo inteiro seria uma espécie de bolsa, e cada opinião um preço que se apregoa.

O Universo inteiro, não somente Picasso e Machado, mas os infusórios e as constelações, seriam coisas fetais insuficientemente criadas, à espera da última palavra, do veredicto final a ser pronunciado nas salas de visitas dos pequenos-burgueses.

Devo abrir um parêntese. Um leitor afeito a ironias pensará, com sorriso malicioso, que cada linha deste livro não contém outra coisa senão opiniões; e que para combater as alheias, aqui estou me esforçando por inculcar a minha. Responderei a esse leitor como Léon Bloy a Francis de Miomandre, quando esse amável romancista lhe pediu por carta sua opinião sobre a literatura francesa: “Cher monsieur, j’ai Le chagrin de vous dire que vous n’avez rien compris à l’Exégése dês Lieux Communs, puisque vous supposez que jê peux avoir une opinon sur n’importe quoi. Je n’ai que dês croyances ou dês certitudes absolutes, lesquelles sont toujours à prendire ou à laisser,bien entendu.”[1]

Ao leitor que se demorar naquela malícia, imaginando que apenas quero ter a última palavra sobre determinados assuntos, devo advertir que já deixou de compreender o que até agora escrevi. E cada vez compreenderá menos, nas páginas seguintes, porque foram escritas justamente para contar que me despojei de minhas opiniões.

Mas ao leitor de boa vontade, que desejar sinceramente descobrir como é profundo e antigo esse problema da objetividade, eu devo uma ressalva. No sentido clássico, aristotélico ou platônico, a opinião é uma categoria da inteligência com irrefutáveis direitos de cidades. Nesse sentido, Bloy poderia se pronunciar sobre a literatura francesa ou sobre a arte dos zulos, como também eu, a rigor, não tenho outra coisa a propor sobre Machado ou Picasso. Mas mesmo no sentido clássico a opinião é uma categoria pobre, e por isso dizia Fédon: “Almas decaídas tem a opinião por alimento e não a verdade.”

A coisa a que me refiro nessas linhas é diferente. Não pretendi, e creio que também Bloy não pretendeu, usar um exagero literário para atingir uma retificação, mas procurei fazer uma retificação, não somente de um exagero, mas de uma monstruosa deformação do conceito. No uso corrente do termo, a opinião é um fibroma na inteligência produzido pela recusa diante da objetividade. Porque, de pequeno e modesto dado da inteligência, passa a ser considerada como a mais alta e mais dignificante conquista. Quem se nutre alegremente com esse alimento, achando-o gostoso e suculento, é como quem deixa a carne, o pão e o vinho para apregoar as superiores virtudes do palito. É contra essa estranha dieta que sinto uma justa indignação.

As reflexões contidas neste capítulo evidentemente não foram feitas nos dias em que vivi as experiências contadas anteriormente. São de hoje: vieram-me agora; resultaram da investigação de um nexo para aquelas experiências. Não consigo recordar com exatidão o que pensei naquele tempo, nem posso descrever os estados de consciência que tinham qualquer coisa de um nascimento. Direi apenas que sentia levantar-se em mim um senso de objetividade, uma nova consciência voltada para fora e um princípio de confiança na salvação que só poderia vir de fora. Quando ouvi dizer, sobre romance ou pintura, que tudo era questão de gosto, tive um sobressalto. Pensei que, se cada coisa existisse pelo valor apenas, pela medida desse valor conferida pela opinião, bastaria que uma epidemia matasse umas vinte ou trinta pessoas para que a obra de Machado de Assis deixasse de ser uma grande obra. Ora, essa reflexão tinha dois aspectos terríveis: de um lado uma intolerável solidão e de outro uma insuportável e desproporcionada responsabilidade. De um lado eu estaria só, e ao mesmo tempo, por outro lado, estaria dependendo de mim, da minha opinião, o sentido último e definitivo de todas as coisas do universo. A tarefa imposta me acabrunhava, e o castigo do isolamento me convidava a um desespero total. Passa-me pelo espírito, então, a idéia que eu poderia destruir tudo, destruindo-me.

(CORÇÃO, Gustavo. A descoberta do outro. 1952)


[1] Caro senhor, lamento dizer-vos que não compreendestes nada da "Exegese dos Lugares Comuns", pois supondes que eu possa ter opinião sobre o que quer que seja. Eu só tenho crenças ou certezas absolutas, as quais são sempre de pegar ou largar, bem entendido.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

224ª Nota - O judeu moderno e o judeu pré-moderno



O que é o judeu moderno? O que foi o judeu pré-moderno? O judeu pré-moderno acreditava que a Bíblia era literalmente a palavra de Deus, que Ele ditara a Moisés (exceto os últimos oito versículos do Deuteronômio a cujo respeito o próprio Talmud, Baba Batra, indica que possivelmente esses últimos oito versículos não foram ditados por Moisés, visto que dão testemunho de sua morte). Acreditava, ao mesmo tempo, que a tradição real, a lei do Talmud e os comentários da Bíblia também eram a voz de Deus, embora talvez, em grau menor. Mais ainda, este homem de fé profunda e firme vivia em um meio ambiente homogêneo, geralmente ou somente junto a outros judeus. E viviam ao mesmo ritmo, trabalhavam os mesmos dias e tinham os mesmos schabatot e as mesmas festividades, alimentavam-se de igual maneira e regiam-se em seus casamentos pelas mesmas leis. Numa tal sociedade era possível o casamento sem uma relação prévia, o amor romântico não constituía requisito necessário para lograr uma união feliz, pois o mesmo céu e a mesma terra eram comuns ao noivo e a sua noiva. Em terceiro lugar, o judeu pré-moderno dispunha de uma autarquia econômica relativamente cerrada; e os laços entre o gueto e a vida externa eram na realidade bem mais fortes do que se julgou há trinta anos, mas, ainda assim, via de regra, os judeus viviam de e para os judeus. Em quarto lugar, do ponto de vista político, os judeus não participavam em geral da vida política dos países em que moravam, a não ser de forma passiva, e padeciam amiúde os seus efeitos. Seus stadlanim, ou porta-vozes, apresentavam seus casos, porém não existia um partido judeu nem partidos políticos compostos por judeus. A política, de qualquer natureza, estava voltada para o porvir da velha-jovem nação, para a esperança messiânica. E por fim, sob o ângulo cultural, esse judeu pré-moderno, embora conhecesse vários idiomas e apreciasse às vezes a literatura e as artes estrangeiras, tinha como base de sua formação o elemento judeu e hebraico. Tais eram os fatores que determinavam seu caráter intelectual e seu aspecto, posto que o centro de sua vida espiritual era judaico. Pode suportar assim tudo o que suportou.
Se indagarmos, mesmo ao mais tradicionalista entre nós, até que ponto nos parecemos com esse retrato do judeu pré-moderno, creio que a maioria dentre nós admitirá que nos diferenciamos muito em cada um desses cinco pontos. A própria crença de nossos crentes não é fundamentalista, em regra geral. Isto é muito sofisticado. Trata-se de uma luta entre os interrogantes críticos de nosso próprio coração, que há de sobrepor-se ás dúvidas e esforçar-se empós da honestidade intelectual. No que se refere à nossa forma de vida, a maioria dos judeus vive numa espécie de gueto auto-imposto; e é o que nos apraz. O gueto foi uma forma voluntária de estabelecimento, à qual se seguiu a lei canônica que a tornou coercitiva. Ainda hoje nos fixamos em torno da sinagoga e dispomos de bairros judeus, mas as ruas judias já não são homogêneas e o fato mesmo de os judeus modernos viverem juntos salienta ainda mais as diferenças nas formas de vida, com respeito às leis, aos mandamentos e aos costumes. Uma criança judia, por exemplo, vê que muitos judeus não guardam o sábado nem os preceitos dietéticos, assim como seus pais o fazem. Educar-se-á pois num ambiente parcial mas não homogeneamente judeu, o que constitui sem dúvida uma das maiores dificuldades da educação tradicional na atualidade. Economicamente, não podemos nem desejamos viver de nós e para nós, nem mesmo em Israel e muito menos na Diáspora. Mesmo em Israel sentimos cada mudança na estabilidade econômica mundial; existe maior interdependência do que independência. E politicamente já nos decidimos. Todos nós tomamos parte na política, quando não particularmente, como povo, tanto em Israel como fora. O Sionismo é talvez algo mais do que a reconstrução de nosso velho país e a de um novo Estado. O perigo reside na produtiva resolução de retornar à história geral, de reunir-se aos poderes das histórias nacionais. Como todos sabemos, estamos muito distantes do isolamento político sob o qual o judeu pré-moderno e medieval podia esconder-se entre um progrom e outro. Já não contamos esconderijo político, encontramo-nos no campo aberto dos acontecimentos políticos. Vivemos, do ponto de vista cultural, assim como o expressou o Professor Kaplan, em duas civilizações, a judaica e a geral, e na maioria de nós, mesmo em Israel, as forças formativas já não são apenas judaicas. Mesmo quando falamos e estudamos hebraico, as ciências gerais e as humanidades, a história, a poesia e as artes são frequentemente muito mais poderosas que as forças que brotam e fluem do que é nosso.
Este é o retrato do judeu moderno. Mesmo como crente sua crença não é simples. Não habita em um meio homogêneo. Está sujeito a interdependências, quer comerciais, quer políticas, e culturalmente, pode afastar-se, como aconteceu repetidamente, das forças pioneiras de seu ser. Eis a resposta à nossa primeira interrogação.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

223ª Nota - Sobre a Justiça Social



Na Encíclica “Rerum Novarum” não se encontram unidos os vocábulos justiça e social, mas várias vezes Pio XI assim os escreve, conferindo definitivamente foros de cidade à expressão Justiça Social, cara desde muito tempo aos católicos sociais. Aliás, se a expressão é relativamente recente não o é evidentemente aquilo que ela designa. Justiça Social, com efeito, é apenas uma denominação mais adaptada ao pensamento moderno, do que a empregada por Santo Tomás de Aquino: justiça geral ou legal.

À primeira vista, talvez cause estranheza consagrarmos um capítulo inteiro à análise da noção de justiça social. Quem, porém, o ler até o fim, há de verificar o lugar imenso que ela ocupa no conjunto da doutrina social católica.

Os teólogos da escola tomista dividem a justiça em: justiça particular e justiça geral ou legal. A justiça particular compreende a comutativa e a distributiva. A justiça comutativa rege as relações contratuais entre os indivíduos; a distributiva preside às relações entre os detentores da autoridade e os seus subordinados. Como o próprio nome indica, a palavra comutativa vem do latim “commutare”, trocar. A justiça comutativa tem por objeto os direitos individuais estritamente determinados pelas transações e pelos contratos. Dá a quem é lesado o direito de, perante os tribunais, reivindicar o que lhe é devido. A justiça distributiva concede aos membros da sociedade o direito de serem tratados consoante as respectivas aptidões e necessidades, pelos detentores da autoridade; e obriga estes a distribuírem os cargos e bens proporcionalmente às faculdades e aos méritos de cada um.

A justiça geral é uma virtude de alguma sorte sobreposta aos atos de todas as outras virtudes, porque visa a fazer todas as nossas ações convergirem para o bem comum da sociedade de que somos membros. Denomina-se também legal, enquanto se exerce dentro do quadro das leis cujo objeto essencial é o bem comum. É praticada pelos cidadãos dispostos a servirem este bem e por ele regularem a sua vida moral.

Impõe-se especialmente àqueles que fazem, executam ou interpretam as leis, visto que estas, por definição e essencialmente, são prescrições para o bem comum.

A justiça geral ou legal tem, pois, por objeto próprio o bem comum, isto é, o interesse geral, diferente do interesse particular ou dos indivíduos. É a que ora se chama, de preferência, justiça social.

“Semelhante ao sol que, embora permaneça uma realidade distinta dos outros seres, representa a respeito deles o papel de causa universal envolvendo-os com a sua luz e transformando-os pelo seu calor, a justiça social tem por função promover em prol do bem comum os atos de todas as outras virtudes; mas isto não impede de ser uma virtude especial porque tem objeto próprio, diferente do objeto particular daquelas: o bem comum. Assim como, diz Santo Tomás, a caridade pode ser chamada virtude geral porque subordina ao Bem divino os atos de todas as virtudes, também o pode a justiça social que subordina os mesmos atos ao bem comum” (II. II. Q. 58, art. 6).

A obrigação de orientarmos toda a nossa atividade no sentido do bem comum, decorre, pois, do fato de sermos, conforme nos fez a Providência, não só racionais, senão também sociais.

No começo do seu tratado sobre o governo dos Príncipes, Santo Tomás lembra que o homem é obrigado a viver em sociedade por causa da sua extrema grandeza e da sua extrema miséria. O poder da sua inteligência e a habilidade das suas mãos fornecem-lhe o meio de realizar maravilhas; mas os recursos de ordem técnica e de ordem intelectual nele existem só no estado de gérmens. Várias vezes foi dito que, quanto ao físico, os homens nascem mais desprovidos do que os animais. Ora, “para que façam os seus recursos saírem do estado de gérmens e desabrocharem em realidade, os homens têm necessidade absoluta de auxílio recíproco”.

Este auxílio recíproco pressupõe esforços conjugados e convergentes que não podem ser tais sem receberem impulso dum poder tendo o direito de ditar ordens a indivíduos obrigados a cumpri-las.

(G. C. RUTTEN, O.P., A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, Segundo as Encíclicas “Rerum Novarum” e “Quadragesimo Anno”,  1947.)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

sexta-feira, 1 de julho de 2016

221ª Nota - Oração dos pais a São José


Ó São José, virgem fidelíssimo e casto esposo de Maria Santíssima, perfeito modelo dos esposos e dos pais, com todo respeito e confiança, a Vós recorro, e com os sentimentos de elevada veneração, prostro-me a vossos pés, implorando o vosso socorro. Vede, ó puríssimo São José, as minhas necessidades e as da minha família, atendei aos desejos do meu coração, pois é ao vosso tão terno e bom que os entrego. Espero que, pela vossa intercessão, alcançarei de Jesus a graça de cumprir como devo as obrigações de esposo e de pai. Alcançai-me o santo temor de Deus, o amor do trabalho e das boas obras, das coisas santas, da oração, a doçura, a paciência, a sabedoria, enfim, todas as virtudes cristãs, e que fazem a felicidade e ornamento das famílias. Ensinai-me a honrar minha esposa, como Vós honrastes à santíssima Virgem Maria, e como Jesus Cristo ama a Sua Igreja. Protegei a minha esposa, dirigi-a no caminho do bem e da justiça, pois tão cara como a minha me é a sua felicidade. Encomendo também ao vosso paterno coração os meus filhos, tão amados por mim. Sede seu Pai, inclinai os seus corações à piedade; não permitais que se afastem do caminho da virtude; tornai-os felizes, e fazei com que depois da nossa morte se lembrem de nós, rogando a Deus por nossas almas e honrando a nossa memória com as suas virtudes. Não permitais que se afastem da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana: Única Igreja de Cristo, Nosso Senhor. Terno Pai, tornai-os piedosos, caridosos e sempre católicos exemplares, para que a sua vida, cheia de boas obras, seja coroada por uma santa morte. Fazei, ó Beatíssimo José, com que um dia nos achemos reunidos no Céu, e ali possamos contemplar a vossa glória, celebrar os vossos benefícios, gozar de vosso amor e louvar eternamente o vosso amado Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em companhia da Santíssima Sempre Virgem Maria, nossa amabilíssima Mãe, e de todos os santos e anjos. Amém!