sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

125ª Nota - O reflexo da inteligência divina nas criaturas


“Vejam só! – Um rato morto, passeando aqui pelo atalho.”
“Que? Rato morto passeando!”
“Bem, não é propriamente o rato; ele é arrastado por cinco besouros. – Já faz algum tempo que estou observando como eles se esfalfam; no entanto, conseguem levá-lo.”
(...)
O professor interveio: “Esses besouros têm de fato um nome científico que assinala sua atividade – Necrophorus vespillo. Quando acham alguma carniça, acorrem uns quatro ou cinco; penetram por baixo do cadáver e cavam um buraco.”
“Curioso! Por que apenas quatro ou cinco?”
‘Porque apenas as larvas de outros tantos besouros podem viver do cadáver. Em três ou quatro horas está pronta a cova. Antes porém de enterrar o corpo, nele põem os ovos.”
“Por que enterram o rato?”
“Bem. Para que outros animais carniceiros não o devorem, e ainda a fim de o sol não o desseque, senão as larvas recém-nascidas não encontrariam alimento. Se o cadáver estiver em terreno pedregoso, põem mãos à obra e, com muito esforço, arrastam-no, como estes o fazem até encontrarem terreno mais fofo, onde possam enterrá-lo.”
“Como é interessante” Quem lhes ensinou isso?”
(...)
“Foi alguém que cuida do universo inteiro, não é verdade?”
(Excerto de “Na Linda Natureza de Deus”, de mons. Tihamér Tóth)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

124ª Nota - Sobre a Amizade


E, em primeiro lugar, nada há aí, parece, entre todas as coisas do mundo, que se haja dignamente de preferir à amizade. É ela, sem dúvida, que concilia a união dos virtuosos e lhes conserva e aperfeiçoa a virtude. Dela é que todos hão mister no trato de todos os negócios, e que se não intromete importunamente na prosperidade, nem deserta na adversidade. Ela quem traz os maiores gozos, tanto assim que se convertem em tédio, sem os amigos, todas as coisas deleitosas. O amor faz leves e quase nulas as asperezas todas; nem há crueldade tamanha de tirano algum que o leve a não se agradar da amizade. Verdadeiramente: querendo outrora Dionísio, tirano de Siracusa, matar um de dois amigos, chamado Damão e Pítias, o que ia ser morto pediu licença, a fim de ir para casa pôr em ordem os seus negócios; e o outro entregou-se ao tirano, como penhor da volta do amigo. Eis que se aproxima o dia prometido, e este não torna. Toda gente  acusava de estupidez o fiador. Ele, todavia, proclamava nada temer da constância do amigo. E, justamente na hora em que houvera de ser morto, regressou o condenado. Maravilhado logo da têmpera de ambos, perdoou o tirano o suplício, por causa daquela fiel amicícia, rogando, além disso, que a ele recebessem como terceiro no grau de amizade.
(Santo Tomás de Aquino, em “Do Governo dos Príncipes, ao Rei de Cipro”)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

123ª Nota - Deus castiga os pecados do povo dando-lhe tiranos


(...) permite Deus que governem tiranos, para punir os pecados dos súditos. E tal punição costumou chamar-se, nas Escrituras, ira de Deus. Donde o dizer Deus, por Oséias, XIII, 11: “Dar-vos-ei um rei, no meu furor.” Infeliz, porém, do rei que no furor de Deus ao povo se concede! Pois não pode ser estável o seu domínio, por isto que não se esquecerá Deus de apiedar-se, nem conterá, na sua ira, as misericórdias suas. Ao contrário, diz-se por Joel, II, 13, que é paciente e de muita misericórdia e superior à malícia. Não permitirá Deus, portanto, que reinem longamente os tiranos, mas, depois da borrasca por ele no povo desfechada, trará a tranquilidade pela deposição deles. Daí o dizer-se no Eclesiástico, X, 17: “Destruiu Deus as sedes dos cabeças soberbos e, no lugar deles, fez sentarem-se os mansos.” 
(Santo Tomás de Aquino, em “Do Governo dos Príncipes, ao Rei de Cipro”)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

122ª Nota - Fuga das tentações


Àquele que foi tentado pelo ouro e foi encontrado perfeito, está reservada uma glória eterna: ele podia transgredir a lei e não a violou; ele podia fazer o mal e não o fez. (Eclesiástico, Cap. XXXI)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

121ª Nota - Na Linda Natureza de Deus


Nós não sabemos fazer distinção entre o que é prejudicial e o que é útil. Mas vejam: O boi o faz às mil maravilhas sem que o tenha aprendido. Linneu assegura que o boi come 276 espécies de plantas e rejeita 218 porque lhe seriam prejudiciais. Isso se chama conhecer botânica! Em outras coisas, porém, o coitado é “estúpido como um quadrúpede”. A ovelha come 387 espécies de vegetais e evita cuidadosamente 141. E a cabra? 449 espécies ela aproveita, não tocando em 126.
Quando abrimos, ontem, um formigueiro vocês ficaram estupefatos: que palácio maravilhoso, cheio de andares e corredores construíram estes bichinhos! (...) Basta considerar a natureza com olhos abertos para percebermos a grandeza do Criador em toda a sua formosura.
(Excerto de "Na Linda Natureza de Deus", de mons. Tihamér Tóth)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

120ª Nota - Reflexão do Padre Antônio Vieira


Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras. (Padre Antônio Vieira) 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

119ª Nota - Francisco Bergoglio e seu novo credo religioso


Em 6 de janeiro passado se difundiu no mundo inteiro, um vídeo chamado “Vídeo do Papa”, como “iniciativa global sustentada pela Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração) para colaborar na difusão das intenções mensais do santo Padre sobre os desafios da humanidade.”

O protagonista do vídeo – já conhecido por todos – é o mesmo ocupante da Sede Apostólica, Jorge Mario Bergoglio; além dele, quatro expoentes de várias religiões: uma “monja” budista, um rabino, um sacerdote católico e um muçulmano, cada um representado no final do vídeo por um símbolo da sua própria religião: um ídolo de Buda, um menorá, um Menino Jesus e um “rosário” muçulmano. Mas além das diversas religiões e crenças, une-os uma mesma profissão de fé: “Creio no amor.”

São incontáveis os comentários sobre estas imagens que difundem, do modo mais eficaz para o homem moderno, o indiferentismo religioso. A mensagem fala por si mesma, e para quem todavia não a conhece, juntamos o presente comunicado. Interessam-nos mais os comentários, também críticos, às palavras e imagens difundidas pelo Jorge Mario Bergoglio.

Em primeiríssimo lugar julgamos gravemente ofensivos a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Sua Igreja e a Cátedra de Pedro, os comentários críticos dos que, contraditoriamente, reconhecem até nas missas que celebram ou as que assistem, no autor e promotor do Vídeo em questão, “Sua Santidade o Papa Francisco”, Vigário de Cristo e Sucessor de Pedro, como se Cristo, a Igreja e a Cátedra de Pedro, na pessoa do Vigário de Cristo, pudesse difundir e ensinar ao mundo inteiro não a Verdade, senão o erro, não o Evangelho e a Fé Católica, senão a incredulidade e o indiferentismo.

Em segundo lugar, fazemos notar quais são, a nosso parecer, os erros mais graves contidos nas palavras de J. M. Bergoglio: o naturalismo e o agnosticismo. Muitos se hão escandalizado da imagem final e sinóptica do vídeo, que mostra os símbolos das várias religiões como equivalentes. Outros, sempre com razão, escandalizaram-se do novo “credo” (“Creio no amor”) desta que poderíamos chamar nova religião, na qual o amor está desvinculado com a Verdade e a Fé, sem as quais é impossível agradar a Deus. Parece-nos que poucos hão prestado atenção às palavras seguintes de J. M. Bergoglio: “Muitos pensam distinto, sentem distinto, buscam a Deus ou encontram a Deus de diversas maneiras. Nesta multidão, neste leque de religiões, há uma somente certeza que temos para tudo: todos somos filhos de Deus.”

Nesta frase, a fé religiosa não aparece mais como uma revelação divina e sobrenatural, senão como uma busca que vem do homem e que, portanto, é substancialmente natural. Este naturalismo (essência da maçonaria, segundo as palavras do Padre Giantulli, porém muito mais antigo que ela) está confirmado pelas palavras conclusivas: “todos somos filhos de Deus”. A filiação de Deus não vem mais, pois, da graça divina concedida a quem crê em Jesus Cristo (“Porém a todos os que o receberam, que são os que creem em seu nome, deu a eles o poder de serem filhos de Deus. Os quais não nascem do sangue, nem da vontade da carne, nem do querer do homem, senão que nascem de Deus” – S. João, 1, 12-13) senão de baixo, do simples fato de pertencer a humanidade (“todos” filhos de Deus) ou de buscar cada um a sua maneira. Que todos os homens são – por natureza e não pela fé divina e revelada – “filhos de Deus”, eis aqui a “única certeza”. A ampla gama de religiões e os “diversos modos de pensar” (a fé divina reduzida ao pensamento humano) e de “sentir” (a fé religiosa reduzida ao “sentimentalismo religioso” protestante e modernista) não tem nenhuma certeza (exceto no que teria de comum: “o amor”; qual, de quem e de que, não é sabido). Neste “leque de religiões” está incluído o cristianismo. A fé cristã, pois, e ainda qualquer fé, não seria para J. M. Bergoglio algo certo.

Que a fé não seja uma certeza, que sempre esteja ligada à dúvida, que esta ideia de fé seja a base indispensável do diálogo inter-religioso que deve estender-se ainda aos agnósticos, não é uma ideia exclusiva de J. M. Bergoglio, senão que é o coração mesmo do modernismo agnóstico, como explicamos no artigo “Assisi 2011: Joseph Ratzinger e o agnosticismo” (Sodalitium, n.º 66, pp. 5-20). Como escreveu mons. Sanborn em um artigo: “o problema não é Francisco”, o problema é “o Vaticano II”.

(Padre Ricossa, http://www.catolicosalerta.com.ar/catolicidad/video-comentarios.html)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

118ª Nota - Conselhos aos filhos e afilhados



Dirige a Deus cada um de seus atos; ofereça-os e peça-Lhe que seja para Sua honra e glória.
Ofereça a si mesmo a Deus cinquenta vezes por dia, e que seja com grande fervor e desejo de Deus.
Em todas as coisas, observe a providência de Deus e Sua sabedoria, em tudo, envia-Lhe o teu louvor.
Em tempos de tristeza e de inquietação, não abandone nem as obras de oração, nem a penitência a que está habituado. Antes, intensifica-as, e verá com que prontidão o Senhor te sustentará.
Nunca fale mal de quem quer que seja, nem jamais escute. A não ser que se trate de ti mesmo. E terá progredido muito, no dia em que se alegrar por isso.
Não diga nunca de você mesmo algo que mereça admiração, quer se trate do conhecimento, da virtude, do nascimento, a não ser para prestar serviço. Mas que isso seja feito com humildade, e considerando que esses dons vêm pelas mãos de Deus.
Não veja em você senão o servo de todos, e em todos contemple Cristo Nosso Senhor; assim O respeitará e O venerará.
A respeito de coisas que não lhe diga respeito, não se mostre curioso, nem de perto, nem de longe, nem com comentários, nem com perguntas.
Mostre sua devoção interior somente em caso de necessidade urgente. Lembre-se do que diziam São Francisco e São Bernardo: "Meu segredo pertence a mim".
Cumpra todas as coisas como se Sua Majestade estivesse realmente visível; agindo assim, muito ganhará a sua alma.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

117ª Nota - O Anticristo e a liberdade de culto


Assim, quando o Anticristo tiver escravizado o mundo, quando tiver colocado em toda parte seus ordenanças e suas criaturas, quando puder puxar à sua vontade todos os fios de uma centralização levada ao extremo: ele tirará a máscara, proclamará que todos os cultos estão abolidos, se aclamará como Deus único e, debaixo das penas mais terríveis e mais infamantes, quererá forçar todos os habitantes da terra a adorar, excluindo qualquer outra, sua própria divindade. É nisto que desembocará a famosa liberdade de culto da qual se faz tanto alarde; a promiscuidade dos erros exige logicamente esta conclusão.
(Venerável Padre Emmanuel-André, falecido em 1903, em “O Drama do Fim dos Tempos”)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

116ª Nota - Modas e costumes da cidade mundana


Mœurs et coutumes de la cité du monde.

Les mœurs sont le fruit des amours. Tel amour, telles mœurs. Or l’amour qui règne en la cité du monde, c’est l’amour de soi : l’amour de soi mal entendu, l’amour de soi se faisant soi-même sa fin, sa loi, sa raison d’être, ce qui est la négation de Dieu.

Cette simple remarque nous donne l’explication de l’athéisme moderne. Nos impies ont la logique du mal : logique funeste dont ils sont les victimes.

L’amour de soi étant pris ainsi comme loi suprême, ne peut cependant trouver en soi sa satisfaction. Dieu seul se suffit à lui-même. Et les créatures qui veulent singer Dieu dans cette sublime prérogative ne tardent pas à reconnaître leur indigence.Dans la maison de mon Père, disait l’enfant prodigue, les mercenaires même ont du pain en abondance, et dans ce pays-ci, moi, je meurs de faim. (S. Luc, XV, 17.)

Alors, manquant de tout, la créature regarde autour d’elle ou au-dessous d’elle ; elle va quêtant, par-ci, par-là, ou de la gloire, ou des possessions terrestres, ou des plaisirs : c’est-à-dire que l’amour-propre, forcé de sortir de lui-même, se montre par une des trois concupiscences, et cherche ainsi à attirer à soi de quoi satisfaire à son besoin d’aimer, de jouir, de posséder : besoin invincible et cependant insatiable.

Toute la morale de la cité du monde, morale indépendante comme on le voit, découle de cette source funeste de l’amour-propre, source qui se divise en trois branches, et va se répandant de tous côtés, pour y promener son indigence, mendier des satisfactions, et cela toujours en vain, car les satisfactions manquent et l’indigence reste.

C’est un des caractères de la cité du monde, elle veut jouir dans le présent ; et pour l’amour de cette jouissance dans le présent, elle sacrifie toute espérance dans l’avenir.

Saint Augustin dit quelque part que, dans la cité de Dieu, par le cœur la chair est purifiée : Per cor caro mundatur. (De civit. Lib. X, c. XXV). Mais dans la cité du mal, là où le cœur est ainsi livré à l’amour-propre, il devient lui-même souillé, et il ne tarde pas à souiller la chair qu’il aurait dû sauver.

C’est pour cela que dans la cité du monde on ne veut point de la sainteté du mariage : on aime les unions libres, c’est-à-dire la liberté du désordre. Dans le mariage même, on ne veut pas des fruits du mariage.

Voici quelques petits traits de mœurs qui nous sont fournis par l’histoire. « Saint Augustin nous apprend que les Manichéens, qui ne se permettaient pas le mariage, se permettaient toute autre chose. C’est que, selon leurs principes, c’était proprement la conception qu’il fallait avoir en horreur. Ces hérétiques se mitigeaient quelquefois à l’égard du mariage. Un certain Hartuvin le permettait, parmi eux, à un garçon qui épousait une fille… encore ne devait-on pas aller au-delà du premier enfant. » (Bossuet, Hist. des Variations, liv. XI.)

Dans ces conditions, la femme est sans dignité, la vie sans honneur comme sans bonheur, et la mort sans espérance. Reste donc, comme dit saint Paul, l’effroyable attente du jugement et le feu qui dévorera les ennemis de Dieu. (Heb., X, 27.)

(Padre Emmanuel-André, falecido em 1903)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

115ª Nota - Malditos são os que chamam o mal de bem e o bem de mal


Malheur à vous, dit le Seigneur par la bouche d’Isaïe,malheur à vous qui appelez mal ce qui est bien, et bien ce qui est mal, qui des ténèbres faites la lumière, et de la lumière les ténèbres, qui appelez amer ce qui est doux, et doux ce qui est amer. (Isaïe, V, 20.)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

114ª Nota - Malditos são os cristãos que promovem o falso ecumenismo


MALDITOS os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável SALVADOR seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteão de falsos deuses. 
(Venerável Padre Emmanuel-André, falecido em odor de santidade no ano de 1903)

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

113ª Nota - O Anticristo


É muito crível também que o Anticristo disporá, para subir, de todos os partidários das falsas religiões. Ele se anunciará como cheio de respeito pela liberdade dos cultos, uma das máximas e uma das mentiras da besta revolucionária. Dirá aos budistas que é um Buda; aos muçulmanos, que Maomé é um grande profeta. Nada impede que o mundo muçulmano aceite o falso messias dos judeus como um novo Maomé.
(Venerável Padre Emmanuel-André, falecido em 1903)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

112ª Nota - Fim dos Tempos (Padre Emmanuel-André)


São Gregório Magno, em seus luminosos comentários de Jó, penetra profundamente em toda a história da Igreja, visivelmente animado do mesmo espírito profético espalhado nas Escrituras. Ele contempla a Igreja, no fim dos tempos, sob a figura de Jó humilhado e sofredor, exposto às insinuações pérfidas de sua mulher e às críticas amargas de seus amigos; Jó, diante de quem, outrora, os anciãos se levantavam e os príncipes faziam silêncio! A Igreja, disse muitas vezes o grande Papa, no fim de sua peregrinação terrestre, será privada de todo poder temporal; procurarão tirar-lhe todo ponto de apoio sobre a terra. Vai mais longe ainda, declara que ela será despojada do próprio brilho que provém dos dons sobrenaturais. “O poder dos milagres, diz ele, será retirado, a graça das curas arrebatada, a profecia desaparecerá, o dom de uma grande abstinência será diminuído, os ensinamentos da doutrina se calarão, os prodígios milagrosos cessarão. Isto não quer dizer que não haverá mais nada disso; mas todos esses sinais não brilharão abertamente, sob mil formas como nos primeiros tempos. Será mesmo a ocasião de um maravilhoso discernimento. Neste estado de humilhação da Igreja, crescerá a recompensa dos bons que se prenderão a ela, tendo em vista somente os bens celestes; quanto aos maus, não vendo mais na Igreja nenhum atrativo temporal, não terão nada a fingir, se mostrarão tais como são”. (Mor. 1, XXXV)

Que palavra terrível: os ensinamentos da doutrina se calarão! São Gregório proclama em outro lugar que a Igreja prefere morrer a se calar. Então ela falará: mas seu ensinamento será entravado, sua voz encoberta; muitos dos que deveriam gritar sobre os telhados não ousarão fazê-lo com medo dos homens.

E será a ocasião de um grande discernimento.
(Venerável Padre Emmanuel-André, falecido em 1903, em “O Drama do Fim dos Tempos”)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

111ª Nota - A arte de punir as crianças


A simples repreensão às vezes não basta. É preciso sancionar uma desobediência caracterizada, uma mentira lúcida, um furto desavergonhado.(...)

Não há nada mais falso e mais cruel para a própria criança do que essa errônea sensibilidade que consiste em inclinar-se diante dos caprichos e faltas, sob pretexto de que se trata apenas de uma criança. É claro que não se cogita de brutalizá-la; mas, erigir em princípio ser preciso “não impor às crianças qualquer sofrimento, mesmo leve”, é um absurdo que levará a criança a se tornar o nosso próprio tirano.

A criança é uma anarquia de tendências. Não é de espantar que subitamente surja uma tendência perversa. Desconfiemos das perfeições prematuras. É papel do educador intervir por vezes energicamente para associar no espírito e mesmo na carne da criança a ideia de uma dor física à transgressão de uma interdição.

A punição, para ser educativa, isto é, para formar a consciência, deve sempre ser dosada, ou melhor, adaptada à idade da criança, ao seu caráter, ao seu temperamento, bem como às circunstâncias da falta. O mau jeito é uma coisa, a maldade, outra. Uma coisa é uma irreflexão, outra uma falta de respeito.

Um bom corretivo pode produzir uma cura radical e definitiva nos casos em que as advertências e as punições leves repetidas só fazem enervar sem proveito.

É um erro castigar uma criança por um malfeito do qual não havia adivinhado o caráter repreensível. Antes de punir, convém verificar se a criança sabia da proibição. (...)

“Quem bem ama bem castiga”, diz o provérbio. No mesmo sentido, todo castigo, para ser legítimo, deve proceder do amor: de um amor forte do que o amor sensível. Não é preciso pisar o coração de carne para punir um ser frágil e ternamente amado? Mas é por vezes o melhor testemunho de afeto profundo que lhe podemos dar. A criança, aliás, não se engana. Distingue com segurança as punições merecidas das que não o são. Jamais uma sanção justa, aplicada com calma, e mesmo firmemente, pode diminuir o respeito ou a afeição para com os pais. (...)

Que fazer quando a uma sanção a criança responde: “Não me importo”?

1. Não responder ao pé da letra: “Também eu”, ou então: “Tanto melhor se não te importas!”

2. Não ameaçar com uma sanção mais forte: “Uma vez que não te importas, está provado que não te bati o suficiente...”

3. Dizer simplesmente: “Meu fim não é o de te ser desagradável, mas o de te dar ocasião de refletir, de te acalmar ou de te impedir que incomodes os outros.”

Na maioria das vezes, a doçura após a correção fará com que a criança compreenda o fim verdadeiro de vossa repreensão.

Refleti antes de proferir uma ameaça. Se ameaçásseis com frequência sem executardes vossas ameaças, estas se tornarão para a criança uma brincadeira sem importância ou um autêntico jogo. (...)

Evitai as punições humilhantes, absurdas ou antieducativas. Humilhantes como as “orelhas de burro”; absurdas como a de privar a criança de ir à missa ou à reunião de escoteiros; antieducativas como a de obrigá-la a copiar vinte vezes: “Desobedeci a mamãe” (a menos que lhe façamos copiar uma frase positiva: “Quero obedecer cada vez mais!”). (...)
Nunca se deve aplicar o castigo de uma maneira implacável e sem remissão. É preciso deixar à criança a possibilidade de reparar a falta pela confissão e pelo esforço. A sanção irrevogável desestimula a vontade de reparação. (...)

É sempre preciso não voltar atrás de uma sanção justa. Suspender levianamente uma punição merecida é dar antes prova de fraqueza do que de perspicácia. Lembremo-nos de que a vontade da criança precisa apoiar-se numa autoridade tão lógica quanto firme.

Quando vosso filho age mal, deveis cair sobre ele como uma águia sobre a presa. Ele se curvará à saraivada e fugirá. E nesse caso, não imiteis aquela pobre mulher nervosa, que perseguia o filho gritando. “Marcelo, Marcelo, vem cá para que eu te dê um tapa!” (...)

É preciso não punir tudo. Há pecadilhos que devemos às vezes fingir que não vemos, sobretudo se não têm consequências morais ou sociais. Mas, quando se proíbe uma coisa, que seja para todos os dias, enquanto não mudarem as circunstâncias.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

110ª Nota - Pureza de coração e perfeito abandono


Quem quer gozar da abundân­cia de todos os bens, não tem senão que fazer uma coisa: purificar o coração, desapegar-se das criaturas e abandonar­-se inteiramente a Deus. Nesta pureza e neste abandono encontrará todas as coisas. Senhor, peçam-Vos embora os outros toda a espécie de dons, multipliquem as palavras e as orações; quanto a mim, ó meu Deus, não Vos peço senão uma só coisa, não tenho senão esta petição a fazer-Vos: Dai-me um coração puro! Ó homem de coração puro, como sois feliz!  Pela viveza da vossa fé, vedes a Deus em Si mesmo. Vedê-lO em todas as coisas e a todo o momento, agindo dentro e fora de vós. Em tudo Lhe estais sujeito e em tudo se serve de vós. A maior parte das vezes não pensais nisso; mas pensa Ele por vós. O que por Sua ordem vos acon­tece e deve acontecer-vos, basta que vós o desejeis, pois Ele conhece perfeita­mente a disposição da vossa alma. Em vão procurais descobrir em vós este desejo e não o conseguis. Mas Ele vê-o muito bem. Como sois demasiado sim­ples! Acaso ignorais o que é um co­ração bem disposto? Não é outra coisa senão um coração onde Deus Se en­contra. Vendo nesse coração as Suas próprias inclinações, Deus sabe muito bem que permanecerá sempre inteiramente submetido às Suas ordens. Sabe ao mesmo tempo, que vós não conheceis aquilo que vos é útil; e por isso toma o cuidado de vo-lo dar.