segunda-feira, 30 de novembro de 2015

95ª Nota - Os católicos e sua covardia política


Por mais que nos queiramos iludir, o certo é que sentimos quanto é morna e inexpressiva a atmosfera moral do Catolicismo no Brasil. Somos o número, somos talvez a riqueza, nada ficamos a dever aos nossos inimigos nos domínios da inteligência e da cultura, da honestidade e do trabalho, e, no entanto, sentimos que pesamos muito pouco na orientação geral da vida pública brasileira. E por quê? Porque o católico se deixa amortalhar na mais dolorosa das covardias, que é a covardia política.
(FIGUEIREDO, Jackson de. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro: AGIR, 1958.)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

94ª Nota - Jumento, nosso irmão


O Jumento na História, Religião, Economia, Folclore, Literatura

Humberto de Campos, em ‘Destinos’, páginas 29 a 32, escreve interessante diálogo que transcrevemos aqui, como valioso subsídio literário.
Um Gênio cansado de habitar o Espaço, resolveu fixar domicílio na Terra, e nela pousou, um dia. Desceu em uma planície, por onde passava um lenhador puxando o seu burro pelo cabresto, fê-los parar, a fim de lhes pedir informações sobre o mundo em que viviam.
O Gênio – Qual foi de vós, neste planeta, o que inventou a Guerra?
O Burro – (indicando o homem com o focinho) – Foi ele, senhor.
O Gênio – Qual é, dos dois, o que ajuda o outro?
O Homem – É ele, senhor.
O Gênio – Qual é o que conduz ao dorso os peregrinos cansados?
O Burro – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual é, dos dois, o que mata os outros animais para lhes comer a carne?
O Homem – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual é o que engaiola os pássaros, privando-os da liberdade?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual foi o que conduziu Jesus de Nazaré ao Egito, vencendo léguas no deserto?
O Homem – Foi ele, senhor.
O Gênio – Qual o que levou Jesus, de novo, a Jerusalém, para pregar a palavra divina?
O Homem – Foi ele, senhor.
O Gênio – Qual o que O injuriou, e O crucificou?
O Burro – Foi ele, senhor.
O Gênio – Qual o que se alimenta com a relva do chão, e não pede a Deus senão isso?
O Homem – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que mata os outros animais, para lhes tirar a pele a fim de enfeitar-se com ela?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual, dos dois, o que é modesto e resignado?
O Homem – É ele, senhor.
O Gênio – Qual é o que se embriaga?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual é o que não tem ambições, e se satisfaz com que Deus lhe dá?
O Homem – É ele, senhor.
O Gênio – Qual, dos dois, inventou a forca?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que puxa o arado?
O Homem – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que come o pão, que o outro moeu?
O Homem – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual o que se contenta humildemente com a palha?
O Burro – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual o que tem a boca cheia de pragas e blasfêmias contra Deus?
O Homem – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual o que perfura a terra em busca do ouro que Deus enterrou?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que espetou a vela no tronco da madeira, para morrer no mar?
O Homem – Fui eu, senhor.
O Gênio – Qual o que é, na vida, o exemplo da mansidão e candura?
O Homem – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que incendeia as florestas, destruindo as forças vivas da Natureza?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que explora e rouba os seus semelhantes, dividindo-os em ricos, que destroem o trigo, e em pobres que morrem sem pão?
O Burro – É ele, senhor.
O Gênio – Qual o que escraviza os seus irmãos, atirando-os, nos campos de batalha, uns contra os outros?
O Homem – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual o que tem existência mais simples, e na conformidade das leis da Natureza?
O Burro – Sou eu, senhor.
O Gênio – Qual, por ter vida honrada, e pura, é Rei da Criação, e se considera, na Terra, a imagem de Deus?  (Para o burro): – És tu, não é verdade?
O Burro – Não; é ele, senhor.

A essas palavras, o Gênio suspendeu o voo e foi habitar outro planeta.
(Padre Antônio Vieira)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

93ª Nota - Os 10 mandamentos do Facebook


Se alguns desses sintomas aparecem em você, facebookiano(a), então, está na hora de repensar sobre a sua necessidade de se manter nessa rede social. Lembre-se do provérbio: quem vive no perigo, no perigo morre!

1º Sintoma: Não conseguir ficar um dia sem acessá-lo;
2º Sintoma: Aumento da curiosidade fútil e sensual;
3º Sintoma: Conivência com a imoralidade recebida, quer seja escrita, quer seja imagem, vídeo e/ou som;
4º Sintoma: Desejo de ser visto(a), conhecido(a), reconhecido(a) e amado(a) pelos outros facebookianos;
5º Sintoma: Falta de vontade para rezar e/ou ler livros religiosos e morais;
6º Sintoma: Perda crescente da consciência reta;
7º Sintoma: Desejo cada vez maior de flertar. O Facebook é comprovadamente causa crescente de adultérios e divórcios;
8º Sintoma: Isolamento ou, quando o oposto, vontade de frequentar ambientes mundanos e pecaminosos;
9º Sintoma: Aversão por aqueles que são contrários ao uso do Facebook;
10º Sintoma: Indiferença com relação a Deus e a Sua Santa Igreja, Una, Católica, Apostólica, Romana.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

92ª Nota - As sete obras de misericórdia espirituais


As sete obras de misericórdia espirituais:

1. Dar bom conselho aos que pecam.
2. Ensinar os ignorantes (a doutrina católica).
3. Aconselhar os que duvidam.
4. Consolar os tristes.
5. Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo.
6. Perdoar as injúrias por amor de Deus.
7. Rogar a Deus pelos vivos e pelos defuntos. 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

91ª Nota - Os mandamentos do homem contemporâneo e inimigo de Cristo



1)    Conhecerás bem o mundo;

2)    Viverás como homem honrado;

3)    Orientarás bem os teus negócios;

4)    Guardarás bem o que te pertence;

5)    Procurarás sair do anonimato;

6)    Procurarás ganhar-te amigos;

7)    Frequentarás a alta sociedade;

8)    Comerás e beberás bem;

9)    Não alimentarás melancolias;

10)    Evitarás a singularidade, a rudeza, a beatice.

São Luís Maria de Montfort (1673-1716)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

90ª Nota - Máximas de Santo Afonso Maria de Ligório


Queira sempre crescer no amor a Jesus Cristo.
Manifeste frequentemente seu amor a Jesus Cristo: acorde e adormeça fazendo um ato de amor. Procure sempre unir sua vontade à de Jesus Cristo.
Medite frequentemente na sua Paixão.
Peça sempre que Jesus Cristo lhe dê o seu amor.
Comungue frequentemente, durante o dia faça muitas comunhões espirituais.
Visite frequentemente Jesus Sacramentado.
Cada manhã receba sua cruz das mãos de Jesus Cristo.
Deseje o Céu e a morte para amar perfeitamente e para sempre Jesus Cristo.
Fale muitas vezes do amor de Jesus Cristo.
Por amor de Jesus Cristo aceite as contrariedades.
Alegre-se com a felicidade de Deus.
Faça o que mais agrada a Jesus Cristo, nada lhe negue.
Deseje e procure que todos amem a Jesus Cristo.
Reze sempre pelos pecadores e pelos que estão no Purgatório.
Expulse do coração qualquer afeto que não seja por Jesus Cristo.
Recorra sempre a Maria para que lhe consiga a graça de amar Jesus Cristo.
Honre Maria para agradar Jesus Cristo.
Faça tudo para agradar Jesus Cristo.
Ofereça-se a Jesus Cristo para sofrer qualquer coisa por seu amor.
Queira antes morrer do que fazer um pecado leve deliberado.
Suporte em paz as cruzes dizendo: Assim quis Jesus Cristo.
Por amor de Jesus Cristo não procure sua própria satisfação.
Ore o mais que puder. 
Continue firme nas boas obras, mesmo no tempo da aridez espiritual.
Não faça nada, nem deixe de fazer nada por respeito humano.
Não se lamente nas enfermidades.
Ame a solidão, para estar a sós com Jesus Cristo.
Expulse a melancolia.
Não perca a confiança por causa de seus defeitos: arrependa-se e trate de se emendar.
Faça o bem a quem lhe faz o mal.
Fale bem de todos; desculpe pelo menos a intenção se não puder desculpar as ações.
Ajude o próximo o mais que puder.
Não faça nada, nem diga nada que lhe desagrade. Tendo faltado com a caridade, peça-lhe perdão, ou converse amistosamente.
Renove sempre o propósito de se santificar, dizendo: Meu Jesus, quero pertencer-vos inteiramente, quero que sejas todo meu.

domingo, 22 de novembro de 2015

89ª Nota - Filme: Cartas ao Padre Jacó


Interessante e convincente filme. 

No Youtube, trailer: 
https://www.youtube.com/watch?v=ENY06eM2WJk 

No Gloriatv, filme completo: 
http://gloria.tv/media/ftnxacffqvp

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

88ª Nota - Itinerário místico de São João da Cruz


São João da Cruz sabia que os bens temporais em si mesmos não levam necessariamente ao pecado; mas a observação cotidiana mostrava-lhe ser tão grande a fragilidade humana, que o coração a eles se apega, esquecendo-se de Deus. É este abandono de Deus que constitui o pecado. E eis aqui o antídoto: “Para livrar-se deveras desses danos e temperar a demasia do apetite, é mister aborrecer toda espécie de posse; nem ter algum cuidado a respeito; como tampouco acerca de comida, de vestido, ou de outra coisa criada, nem no dia de amanhã, empregando esse cuidado em outra coisa mais alta: buscar o reino de Deus, isto é, não faltar a Deus”.

[...] Neste mundo dominado pelo furor do gozo, ciência e técnica trabalham dia e noite para despertar novos e insopitáveis desejos, de sorte que ainda ao rico dê a sensação de pobreza, por lhe faltar o último modelo de automóvel ou porque a residência carece de qualquer detalhe de ultraconforto. É, pois, indispensável querer ser pobre, estar desprendido das coisas materiais, Mas não basta desapegar-se das riquezas para ser verdadeiramente pobre; é ainda necessário desprender-se de tudo. De tudo? Sim, de tudo. [...] Exige a pobreza espiritual que nos desnudemos sobretudo de nós mesmos. [...] A pobreza ou desnudez espiritual é o grande instrumento de libertação da alma, que o apego aos bens criados, o desejo de gozá-los são outros tantos liames e a enlear a vontade... Ser livre, portanto, não é expandir os instintos, expressar os caprichos, sestros, limitações; ser livre é viver segundo nossa natureza espiritual e aderir ao verdadeiro Fim, para participar da vida livre de Deus.

(Pe. M. Teixeira-Leite Penido)

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

87ª Nota - Filme: Santa Teresa de Jesus


ABAIXO O LINK DO PRIMEIRO CAPÍTULO DO EXCELENTE SERIADO SOBRE A VIDA DA GRANDE SANTA TERESA DE JESUS, A REFORMADORA DO CARMELO, NETA DE JUDEUS CONVERTIDOS. SE O "OSCAR" VALESSE ALGO, ESSE FILME RECEBERIA, COM TODA A JUSTIÇA,  TODOS OS PRÊMIOS. TUDO É BEM MONTADO E CONDUZIDO. A ATRIZ PRINCIPAL É ESPETACULAR, PARECENDO A PRÓPRIA SANTA CARMELITA. O FILME SEGUE LITERALMENTE A BIOGRAFIA “TERESA DE JESUS”, PELO SACERDOTE EFREN DE LA MADRE DE DIOS, CARMELITA DESCALÇO (BIBLIOTECA DE AUTORES CRISTIANOS – MADRID – MCMLXXXII – QUINTA EDICION)]

http://www.youtube.com/watch?v=8cDu5FCSNOQ&feature=player_detailpage



terça-feira, 17 de novembro de 2015

86ª Nota - Bons livros


Estou lendo o excelente Livro “O Jovem de Caráter” de Monsenhor Tihamér Tóth, bispo de Veszprém. Aconselho que leiam todos os livros deste augusto príncipe da Igreja.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

85ª Nota - Que é a Cristandade?


Que é a Cristandade? Não apenas o conjunto de povos onde predomina o Cristianismo, como define o dicionário, mas um tecido social em que a religião penetra até os últimos vãos da vida temporal (usos, costumes, trabalhos e divertimentos...), uma civilização em que o temporal é irrigado incessantemente pelo eterno (...)
O sacro penetra até as raízes do profano: o homem se insere numa comunidade em que tudo lhe fala de sua origem divina e de seu fim eterno; o soldado se transfigura em cavaleiro e cruzado; o príncipe, num ungido do Senhor e espada de Deus; a força, a serviço da luz; em poucas palavras, uma cidade de homens que é o vibrante esboço da cidade de Deus.      

(Dom Gérard, Demain La Chrétienté)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

83ª Nota - Ideologia de Gênero = Ódio a Deus


“Varão e Fêmea (Deus) os criou.” (Gn. 1, 27)

O núcleo central do erro monstruoso, que é a ideologia de gênero, é sua recusa da ordem divina revelada e impressa também na própria natureza. Esforçam-se assim em rechaçar a própria natureza humana, substituindo-a pela pura subjetividade, um feroz individualismo, liberalismo, que na ordem filosófica se apresenta como uma consequência do mais bruto personalismo. (Padre Ricardo Olmedo - FSSPX)

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

82ª Nota - Amor à verdade e ódio ao erro


Todo aquele que ama a verdade odeia o erro. Falar assim parece tanto uma ingenuidade como um paradoxo. Mas o ódio ao erro é a pedra de toque para reconhecer se uma pessoa ama a verdade. Se alguém não ama a verdade, pode – até certo ponto – dizer que a ama e talvez até se fazer acreditar. Mas fique tranquilo que cedo ou tarde, dará sinais de não odiar o erro e com isto se entenderá que não ama a verdade.
Quando um homem, que costumava amar a verdade, não mais a ama, não declara logo a sua defecção; começa a odiar sempre menos o erro. Com isto se trai.
As complacências secretas fazem parte de uma das histórias menos conhecidas pelo mundo.
Quando um homem perde o amor pela doutrina que professava até ontem, seja boa, seja má, conserva o símbolo da doutrina. Mas sente morrer em si a aversão a todas as doutrinas contrárias.
Pelo mesmo fato de ser a caridade uma coisa sublime, a realidade por excelência e a medula dos ossos da criatura, por isso, também o abuso da caridade e o mau uso do seu nome devem ser, especialmente e de modo singular, perigosos. “Optimi corruptio pessima”. Quanto mais belo for o nome, tanto mais é terrível. Portanto, se se revolta contra a verdade armando com o poder que recebeu para a vida, que serviços não prestará à morte?
Ora, volta-se contra a luz o nome da caridade, todas as vezes em que, em lugar de atacar o erro, se chega a um acordo com este, sob o pretexto de poupar o homem. Volta-se contra a luz o nome da caridade, todas as vezes em que se serve deste para ceder na execração do mal. Habitualmente o gosta de ceder. A fraqueza é uma coisa agradável à natureza decaída; além disso, a falta de horror ao erro, ao mal, ao inferno, ao demônio, esta falta parece quase uma desculpa pelo mal em nós mesmos, e aí se prepara um pretexto para escusar aquilo que acariciamos em nossa alma. Em geral, a atenuação se localiza e o homem se amansa no confronto da debilidade que o quer invadir, quando começa a chamar “caridade” à acomodação universal com todas as fraquezas, ainda que distantes.
Aqui está um dito de Davi que nunca se escuta: “Que diligitis Dominum, odite malum” (“Vós que amais o Senhor, odiai o mal.”).
Quando o mal entrou no mundo nasceu alguma coisa de irreconciliável. A caridade, o amor para com Deus, exige, supõe, implica, ordena o ódio contra os inimigos de Deus. Mesmo a nível humano, a amizade não se mede pela vivacidade da ternura, mas antes pela comiseração no sofrimento. Se o amigo está contente, pode-se mesmo faltar à ternura por um momento, e, no entanto, permanecem amigos. Se o amigo sofre na sua pessoa ou na sua honra, devido a um acidente, a uma ofensa qualquer e se se ressente apenas francamente com o seu mal, já não se é mais amigo.
O grande Josafá, cujas dimensões desconhecidas espantam, foi reprovado pelo Senhor; tinha-se aliado com o rei de Israel. Aliar-se com o inimigo é o crime escondido, o delito profundo. Existem crimes evidentes, crimes aparentes. Mas a intimidade que possui tudo, tem um crime contra si, que é se aliar com o inimigo. A medida do amor consiste em execrar o inimigo comum. O rei de Israel era inimigo de Deus, mas Josafá se tinha esquecido do que Deus execrava.
A aliança, a aproximação, a vizinhança espiritual do inimigo são crimes contra a intimidade! Ora, esta é a glória quando se trata de Deus, e é mais íntimo de Deus aquele que tem a maior reverência a Sua Majestade. Eis porque o pecado contra o Santo Nome faz os santos estremecerem de horror! Aqueles que sentiram o sopro da glória não se podem reconciliar com os crimes contra a glória. A caridade os impele; eis porque são intratáveis, uma vez que ela os obriga, como uma nobreza superior, a não consentir nas obras do ódio. Quem pactua com o erro não pode conhecer o amor na sua plenitude nem na sua força soberana.
Depois de uma longa guerra quando não se pode mais com ela, quando o cansaço pode causar a vontade de acalmar-se, os reis foram vistos, fatigados pelos combates, cederem esta ou aquela fortaleza. São concessões que fazem acabar a guerra sem disparar os canhões. Mas as verdades não se tratam como fortalezas. Quando se quer fazer a paz, em espírito e verdade, deseja-se a conversão e não a acomodação. A justiça é inteiramente aquilo que é.
Nas relações entre os homens, quando uma aproximação parece realizar-se sem que o culpado tenha mudado em coisa nenhuma, quando se crê que um aperto de mão possa substituir o arrependimento e o sentimento de culpa, esta aproximação falaz acaba por revelar as dificuldades que traz consigo. É uma segunda separação muito mais profunda do que a precedente. E acontece o mesmo com a doutrina. A paz aparente, que a complacência compra e paga, é contrária tanto à caridade como à justiça, porque cava um abismo onde antes havia um pequeno fosso. A caridade requer sempre a luz, e a luz evita também as sombras do compromisso. Toda a beleza é uma coisa inteira. A paz é, talvez, no final das contas, a vitória mais segura sobre si mesma.
Que se diria de um médico que, por caridade, poupasse a doença de um cliente? O médico poderia dizer ao doente: “Depois de tudo, senhor, é preciso ter caridade. O câncer que o corrói interiormente talvez o faça de boa fé. Vamos! Seja mais gentil; não se deve ser tão duro. Ponha-se no lugar do câncer; nele talvez está um animal que tem necessidade de consumir-lhe a carne e o sangue, e o senhor terá a coragem de negar-lhe aquilo que lhe aproveita? O pobrezinho poderia morrer de fome! Por outro lado sou inclinado a crer que o câncer esteja de boa fé e o aconselho a ter um comportamento mais caridoso”.
É o crime do século dezoito: não odiar o mal e fazer-lhe propostas. Mas há uma única proposta para fazer ao mal: a de desaparecer. Qualquer compromisso com ele é uma vitória parcial, mas a vitória total do mal, porque ele não quer expulsar o bem, mas coabitar com ele. Um instinto secreto adverte-o de que, cedendo alguma coisa, cede tudo. E desde o momento em que não é mais odiado, sente-se adorado.
A paz, como se disse, é a vitória segura de si mesma. É uma eliminação. Uma eliminação tão completa que não se tem mais de lutar.”

(Ernesto Hello. “O homem”, XL, Edição Perrin, 1941)